Na prática, estão disponíveis dois métodos para o rastreio do cancro colorretal.
Uma das opções, será iniciar o rastreio realizando um teste de pesquisa de sangue oculto nas fezes, o qual deverá ser anualmente repetido e, caso se revele positivo, ser obrigatoriamente seguido pela realização de colonoscopia.
Estes testes começaram a ser utilizados na década de 70 do século XX, sendo que, naquela altura, a lesão alvo do rastreio era o tumor maligno num estádio inicial e curável, sendo o seu objetivo fundamental a diminuição da taxa de mortalidade por cancro colorretal. Como o seu nome indica, visam identificar a presença de sangue não visível nas fezes, fazendo uso do facto dos tumores malignos do intestino habitualmente sangrarem. Será importante salientar que os pólipos benignos raramente sangram, pelo que este teste não pode ter como objetivo a sua deteção.
É fundamental perceber que o teste de pesquisa de sangue oculto nas fezes tem algumas limitações, a mais importante das quais relaciona-se com o facto dos tumores do intestino não sangrarem todos os dias ou da quantidade de sangue que perdem ser muito baixa e, portanto, não detetável nas fezes. Isto significa que se pode ter um tumor no intestino mas o teste não detetar sangue. Para ultrapassar esta limitação, é necessário repetir o teste frequentemente, em intervalos curtos, no máximo de um ano. A repetição do teste em intervalos curtos aumenta a possibilidade do teste ser realizado num dia em que o tumor dê origem a uma perda detetável de sangue.
Pode ainda acontecer o teste ser positivo e a colonoscopia não revelar alterações significativas. Neste caso, não deverá ficar preocupado. Este facto radicará, muito provavelmente, na presença de hemorróidas, situação muito frequente na idade adulta. Na realidade, a doença hemorroidária constitui a principal causa da presença de sangue nas fezes e pode justificar a positividade do teste. Portanto, se o teste for positivo e a colonoscopia não revelar alterações, não é necessário repetir o teste no ano seguinte, já que a colonoscopia constitui o melhor método de rastreio do cancro colorretal, conferindo proteção, se for normal, durante pelo menos 5 anos. Existe um ponto essencial ao qual é fundamental resistir: nunca se deve confirmar um teste de sangue oculto nas fezes positivo realizando-o de novo. Definitivamente, um teste positivo obriga sempre à realização de colonoscopia.
Apesar de todas as limitações relacionadas com o teste de pesquisa de sangue oculto nas fezes, convirá salientar que estes exames foram os primeiros a ser utilizados no rastreio do cancro colorretal, tendo demonstrado a sua eficácia. Na realidade, a sua utilização, sujeita ao rigoroso cumprimento das regras atrás referenciadas (periodicidade anual e realização sistemática de colonoscopia nos casos positivos), reduz de forma significativa a mortalidade por cancro colorretal, sendo a sua eficácia similar à da mamografia no rastreio do cancro da mama.
A opção alternativa consiste em iniciar o rastreio do cancro colorretal pela realização, desde logo, duma colonoscopia, a qual, se for normal, deverá ser repetida cada 5 anos.
A colonoscopia constitui o único exame capaz de, em simultâneo, detetar as lesões presentes em qualquer segmento do intestino grosso, caracterizá-las, no que respeita à sua natureza benigna ou maligna (biopsia), e proceder à sua remoção (polipectomia ou mucosectomia).
Deste modo, a colonoscopia, mais do que curar o cancro, permite também preveni-lo. Com efeito, sabendo-se que 90% dos cancros colorretais têm origem em pólipos adenomatosos, a lesão alvo do rastreio passou, naturalmente, a ser o adenoma. Assim, a deteção e remoção atempadas deste tipo de pólipos pela colonoscopia, ao promover a interrupção do processo de evolução para cancro, determina não só a diminuição da mortalidade mas também da incidência do cancro colorretal, reduzindo, de forma muito significativa, o sofrimento e os custos associados ao seu tratamento.
Os exames de imagem alternativos à colonoscopia - clister opaco, colonoscopia virtual e videocápsula, comportam, todos eles, a importante desvantagem de exigirem a realização ulterior duma colonoscopia para caracterização e eventual remoção das lesões observadas.
Todavia, a colonoscopia é, nalgumas pessoas, um exame custoso de realizar, pelo desconforto associado tanto à sua preparação como à sua execução, não dispensando, a este propósito, o recurso à sedação profunda assistida por anestesista. Tal condiciona e limita o papel da colonoscopia enquanto método de rastreio do cancro colorretal na população em geral.
Neste particular, uma alternativa aceitável consiste na realização duma colonoscopia parcial, envolvendo a observação dos segmentos distais do intestino grosso (cólon descendente, sigmoide e reto). Este exame, designado por pansigmoidoscopia flexível ou colonoscopia esquerda, exige uma preparação muito simples e não requer qualquer procedimento anestésico, permitindo o diagnóstico de 70% dos tumores colorretais.