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Dulce Rocha

25 anos Próstata, Familiar
Hoje ganhei a coragem que me faltava, na esperança de que este testemunho possa ajudar homens que vivem este problema a olhar para ele com outra força. Desde cedo que sabia que o meu avô tinha um problema de saúde. Sabia que ele fazia exames, que os detestava fazer, e sabia que ele evitava de certa forma olhar para o problema. Fui crescendo e ao ter consciência do problema confrontei a minha mãe que me confirmou: “o avô tinha um tumor na próstata”. Era um tumor benigno, podia ser tratado, era perfeitamente operável. Finalmente ele marcou a cirurgia, após alguma insistência! No dia da cirurgia disse: -“não, não faço vou-me embora”. O meu avô é de um outro tempo, um tempo diferente, em que se pensa que uma operação à próstata pode ser sinónimo de perda de masculinidade. A vida deu-lhe ali uma oportunidade, e ele contra tudo e contra todos negou-a. Mais tarde começaram tratamentos com implante e injecções. Aí ele quis ser operado, tinha passado mais de uma década de convivência com o maldito tumor, mas ele continuava lá, no entanto já era tarde, a idade já não permitiria uma operação. Ali começava o início de um caminho doloroso. Os anos seguintes foram de degradação sucessiva, que o levou a um sofrimento que ainda hoje sou incapaz de descrever. Os últimos anos de vida do meu avô foram os anos em que mais sofri. Quando o visitava apertava-me a minha mão com uma força e carinho inesgotável, lutava contra o maldito tumor com uma força capaz de mover montanhas, mas o maldito venceu. No dia em que a minha irmã me disse “o avô hoje pediu para morrer” arrancaram-me um pedaço de mim. Na Páscoa de 2010 o meu pai (genro do meu avô) foi mordomo da cruz, tradição do Minho, e que o meu avô sempre adorou. Ainda hoje acredito que ele teve força para viver esse dia e para nos dar a alegria de o ter ali, na nossa festa. Já passaram quase dois anos desde a sua partida, e parece que foi ontem, e parece que a dor nunca vai passar. O cancro roubou ao mundo um dos homens mais belos que pisou esta terra, um homem com uma força inesgotável e um amor capaz de suportar tudo. Hoje penso que tudo poderia ser diferente, não fossem as ideias feitas, não fosse esse medo estúpido, não fossem os mitos. A todos os homens que passam ou vão passar por isso peço-lhes: não tenham medo, pois o medo da cura pode custar-lhes a vida. Informem-se junto dos vossos médicos e não acreditem em mitos. Pelo avô mais especial do mundo apelo a todos que não deixem que a cortina do medo vos tape os olhos e vos impeça de ver a luz ao fundo do túnel. Hoje penso que tudo podia ser diferente, e guardo para sempre a força com que me apertou a mão pela última vez, e isso dá-me força para viver e pensar que por ele tenho que ser feliz. Bem haja a todos.
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