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Isabel Maria Bacelo Leonor

38 anos Pâncreas, 2011, Familiar
Olá, o meu nome é Isabel Leonor, mas toda a gente me trata por Belinha, e venho falar do meu pai, Santiago Leonor, que foi doente oncológico. É muito difícil para mim exprimir tudo o que senti, quando, no dia 25 de janeiro de 2011, lhe foi diagnosticado um cancro no pâncreas num estado muito avançado. Foi nesse dia que essa doença nos entrou pela vida dentro, sem pedir autorização. O meu pai queixava-se das dores na zona do abdómen, mas nunca, nunca, pensávamos que ele estivesse tão mal... Após o resultado da TAC, foi um choque, um pesadelo, não podia ser verdade, não podia ter um cancro no pâncreas com metástases no fígado, na parede do intestino, na parede do estômago. Toda a parte abdominal estava mal... Porquê o meu pai? Sempre questionou, porquê ele? No dia 28 de janeiro fomos à primeira consulta no IPO. Aí, o meu pai chorou e disse estas palavras "pensas que não sei, com este tipo de cancro as pessoas morrem após 2 meses" e eu disse-lhe: Mas tu vais lutar contra isso, não te vais entregar, não vais deixar que essa doença te vença!? Após a consulta regressamos todos a casa e nesse próprio dia ele fez o jantar para todos nós! No dia 19 de maio, foi lhe dito que tinham de pensar no doente e não na doença, e aconselharam a iniciar as consultas dos cuidados paliativos. Quando o meu pai ouviu esta recomendação do médico, virou-se para mim e pergunta-me: "o que achas?" Eu nem queria acreditar, nem ouvir a palavra "paliativos", e disse-lhe: acho que deves ir, para teres uma qualidade de vida melhor! Ele virou-se para o médico e perguntou-lhe “quantos meses de vida tenho eu?” e o médico disse-lhe que não sabia dizer, só sabia que quem luta, fica cá mais tempo! O meu pai, no dia 23 de junho, caiu em casa, não tinha força, a minha mãe e minha irmã chamaram o INEM que o levou para o hospital! Mal soube, eu e o marido fomos logo ter com o meu pai, eu tinha de ir! Passou lá a noite, e de manhã quando fomos buscá-lo, ele próprio nos pediu que o levássemos para IPO. Ele sempre olhou para o IPO como uma esperança, uma salvação! Fomos para casa, passamos o S. João juntos, mas estava muito fraco. No sábado a minha irmã ligou-me desesperada a perguntar onde eu estava, pois o pai tinha que ser levado imediatamente para o IPO! Fui com o meu marido para lá, mas sempre com o meu coração muito triste e quando cheguei a casa, vi o meu pai, não estava o mesmo, já quase que não se ouvia a voz dele! Fomos para os paliativos e ficamos lá todos até às 22 h, só a minha mãe é que ficou lá a passar a noite! Virei-me para ele e disse-lhe “até amanhã, sim? Gosto muito de ti e és um lutador, por isso, até amanhã!” E ele disse, sim, muito baixinho. Por volta das 7h, a minha mãe ligou-nos a dizer para irmos para IPO. Quando chegamos tinha partido, 7h55... não queria acreditar que ele tinha partido, o nosso Santiago tinha partido, não pode ser! A minha mãe esteve toda a noite ao lado dele, nunca deixou a cama dele, partiu em paz ao lado da mulher que tanto amava e tanto se preocupava com ela! Neste momento, sinto que foi o melhor para ele! Desde o dia em que se detetou esta doença até ao dia que partiu, foram 5 meses! Nesse período o meu pai lutou com todas as suas forças, nunca desistiu de lutar, mesmo sabendo que ia partir e, mais que tudo, aceitou a doença com muita dignidade e humildade! Estivemos sempre juntos nas consultas, idas ao IPO, sempre a lutar ao lado dele nestes momentos tão dolorosos, tão difíceis! Com este testemunho quero dizer para nunca deixarem de lutar, nunca! Por mais que a situação seja tão negativa, tão dura, nunca, mas nunca deixem de lutar por vocês e pelos que vos amam! E sendo uma doença que tem um poder psicológico tão forte, nunca deixem de estar ao lado das pessoas oncológicas! Elas precisam de nós, do nosso apoio, da nossa força, da nossa compreensão e mais que tudo do nosso amor! Muitas “gracias” tios, tias, amigos e amigas, vocês sabem quem são! Um agradecimento ao médico do meu pai, enfermeiras, a todos funcionários, voluntários, em especial a duas pessoas, que sabem quem são, e por fim a Liga Portuguesa Contra o Cancro! Por fim um conselho, “se o nosso corpo dá sinais, não podemos deixar de o ouvir”. Nunca deixem para amanhã o que dizer ou o que fazer com as pessoas que mais amam, pois o amanhã poderá ser tarde de mais. Lutem e nunca percam a esperança!
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