Informação sobre cancro para crianças

Os superpoderes da Júlia:
Informação sobre cancro para crianças


O diagnóstico de uma doença oncológica induz sofrimento emocional, muitas vezes agravado pelo contexto em que este ocorre. Ter no núcleo familiar uma criança pequena, em idade pré-escolar ou nos primeiros anos de escola, torna o processo de adaptação à doença ainda mais desafiante.

A interrupção dos horários e da rotina diária, a mudança de papéis familiares e domésticos, as alterações físicas e emocionais provocadas pelo tratamento, eventuais dificuldades financeiras e a menor disponibilidade emocional para os papéis parentais, contribuem para índices de stress significativos nos adultos e problemas emocionais e comportamentais nas crianças.

Os recursos e a informação disponível para ajudar a criança a lidar com uma situação de cancro num familiar direto (pais, irmãos, avós, etc.) são escassos.


​"Os Superpoderes da Júlia" é um livro e audiolivro infantil que tem como objetivo ajudar os adultos a explicar às crianças o que é o cancro, qual o seu impacto no dia a dia da família e como podem os mais pequenos ajudar a fazer a diferença. 

O desenvolvimento da criança

O processo de desenvolvimento de uma criança é marcado por várias etapas, exigências e desafios. Entre os 2 e os 7 anos, inicia-se o pensamento representativo, ou seja, a criança torna-se capaz de criar representações da realidade no próprio pensamento. Esta fase é ainda marcada por algum egocentrismo, podendo levar a pensamentos como “Fui eu que causei a doença?”; “Eu também vou ter cancro?”; “Quem é que vai cuidar de mim?”. A criança começa também a conseguir distinguir o certo do errado, o que pode ou não fazer, no entanto, moralmente não sabe ainda julgar uma determinada situação, regendo-se pela sua vontade. Relativamente à compreensão da doença, estas apenas têm um entendimento muito básico sobre o que é estar doente.

Apesar da progressiva autonomia e maturidade, as crianças mais novas podem não estar emocionalmente desenvolvidas o suficiente para conseguirem expressar os seus sentimentos através de palavras. A maioria das vezes, expressam-nos através do brincar ou do estado de humor, sendo espontâneas na forma de o fazer. Quanto menor a idade, maior é a necessidade de prestação de cuidados, o que implica uma maior disponibilidade física e emocional do adulto.

É impossível manter o cancro em segredo

A comunicação do diagnóstico de cancro marca o início de uma experiência indesejada e nunca imaginada. Apesar da ambivalência sentida na decisão de contar ou não contar à criança a realidade da doença, a verdade é que o cancro e o seu tratamento causa inevitavelmente mudanças físicas e comportamentais, por vezes bastantes visíveis, pelo que é impossível mantê-lo em segredo. 

Além disso, por mais novas que as crianças sejam, normalmente sabem quando algo lhes está a ser escondido. A manutenção deste "segredo" poderá ter implicações mais negativas para a criança do que conhecer a verdade, por exemplo, pode acreditar que o seu familiar irá morrer, e como tal receia o abandono, ou até mesmo que outras pessoas próximas, ou ela própria, fique doente. 

Reações mais frequentes 

As reações das crianças dependem de vários fatores, entre eles o nível de desenvolvimento e, frequentemente, não se expressam através de palavras, mas de brincadeiras, desenhos, etc. 

Muitas crianças expressam revolta, medo, confusão e ansiedade ao ficarem sozinhas, podendo também assumir que a culpa é delas ou que foi o seu comportamento que provocou a doença. É frequente retomarem comportamentos típicos de fases de desenvolvimento anteriores (por exemplo, birras, fazer chichi na cama, falar à bebé, etc.); agravarem situações de indisciplina na escola ou em casa; apresentarem quebras no rendimento escolar; ansiedade de separação; entre outros. ​

Sugestões para lidar com estas reações

  • Pergunte à criança como se sente, escute-a com atenção e esteja atento a eventuais alterações do comportamento;
  • ​Incentive a criança a falar sobre os seus medos e preocupações com familiares e/ou outros significativos (por exemplo, professores);
  • ​Dê pequenas e simples explicações sobre o que é o cancro (veja as sugestões infra);
  • Recorra a livros com imagens apelativas, brinquedos ou animais para introduzir o tema "cancro";
  • Explique à criança o que está e o que irá acontecer e quais as mudanças esperadas;
  • Assegure que ela não será esquecida e não ficará sozinha;
  • Mantenha, na medida do possível, as mesmas rotinas e/ou readapte a esta nova realidade;
  • Encoraje a criança a brincar e a divertir-se e a dar e a receber afeto da pessoa doente;
  • Incentive à prática de exercício físico (é uma forma de libertar energia e diminuir os níveis de ansiedade e de agressividade);
  • ​Assegure que o cancro não foi causado pela criança (por exemplo, através do seu comportamento e/ou pensamento) e que não é uma doença contagiosa;
  • Mantenha as regras e os limites;
  • Reforce a disponibilidade para apoiar, evitando atitudes de sobreproteção;
  • ​Transmita que o cancro não é sinónimo de morte; há médicos e investigadores a desenvolver novas formas de tratar o cancro e, independentemente do desfecho, a criança nunca ficará sozinha.

Como promover a comunicação?

Perante alguma desestruturação do quotidiano familiar, onde, além das responsabilidades habituais acrescem novas tarefas relacionadas com a doença, comunicar eficazmente torna-se essencial. Assim, os canais de comunicação devem manter-se abertos entre a família, evitando situações de "ouvir às escondidas".

A comunicação de uma notícia como esta deve ser preparada, idealmente discutida entre os membros da família, antes de ser transmitida. Uma explicação breve e clara, adaptada ao nível de desenvolvimento e compreensão da criança, explicando o que é o cancro, onde se localiza, quais os tratamentos mais frequentes e possíveis efeitos secundários.

Poderá ser importante pedir feedback à criança, para assegurar a compreensão da informação, assim como esclarecer e repetir alguma informação, isto para facilitar o processamento e retenção da mensagem. Além disso, é muito importante fazer uma monitorização atenta e periódica do estado emocional da criança, sobretudo em momentos de maior stress familiar ou na ausência do elemento doente.

 
O que é o cancro?
  • Como o livro explica, o nosso corpo é formado por milhares de células, todas elas com funções diferentes. Normalmente quando as células cumprem o seu papel, morrem e são substituídas por outras células. Quando o nosso organismo não as consegue matar, elas continuam a existir juntamente com as que nasceram para as substituir, formando um tumor.
  • Estes conjuntos de células podem ser benignos ou malignos. Quando o tumor é maligno, as células começam a espalhar-se por outras partes do corpo, além da zona original, atingindo outros órgãos e tecidos.

Porque é que o cancro aparece?
  • Apesar de ainda não haver uma resposta para esta pergunta, sabe-se que alguns comportamentos podem ajudar no aparecimento de alguns tumores, como por exemplo, fumar, beber álcool, ter uma alimentação pouco saudável e exposição prolongada ao sol sem proteção, etc.

Como sabemos que temos cancro?
  • Quando estamos constipados, normalmente temos tosse e espirramos muito. Quando temos cancro, o nosso corpo também nos envia alguns sinais. Alguns deles são a dificuldade em respirar, o cansaço, palparmos uma massa ou alto nalguma parte do corpo, perda de peso não intencional, sangue nas fezes ou na urina... Mas estes também podem ser sintomas de outras doenças, por isso, o diagnóstico de cancro deve ser sempre feito por um médico, com a ajuda de exames e análises específicas.

Como é que o cancro se cura?
  • Embora algumas pessoas não sobrevivam ao cancro, muitas conseguem sobreviver e ter uma vida normal. Existem vários tratamentos para o cancro. Eis algumas formas de explicar aos mais pequenos as opções de tratamento mais comuns:
    • Cirurgia: “é uma operação na qual o médico corta e retira o tumor, para que ele não ocupe o lugar dos outros órgãos”.
    • Quimioterapia: “são uns remédios, um pouco diferentes porque ao invés de serem para engolir, são misturados no sangue, para tratarem a doença. Como são muito fortes, além de tratarem a doença, atacam também as células mais frágeis, como as do cabelo, e é por isso que ele cai durante o tratamento, mas depois volta a crescer”.
    • Radioterapia: “este tipo de tratamento é uma espécie de raios que queimam as células doentes.”
  • Deve ainda reforçar-se que estes tratamentos prolongam-se por algum tempo e normalmente fazem com que as pessoas se sintam cansadas e maldispostas, o que diminui a disponibilidade, por exemplo, para brincarem com a criança.

Como é que a criança pode ajudar?

Ainda que não possa reverter a situação de doença, a criança pode fazer o familiar sentir-se melhor, por exemplo, através da colaboração em pequenas tarefas domésticas, criando momentos de boa disposição, ou até mesmo oferecendo um desenho.
Muito importante para a manutenção do equilíbrio familiar, é manter algumas rotinas. Assim, a criança deve continuar a ir à escola e a participar em atividades desportivas ou de lazer. Sempre que possível, o doente pode participar nestas atividades.

Onde posso obter ajuda?

Por vezes, as dificuldades emocionais persistem e a família não encontra recursos para gerir todos estes desafios de forma autónoma. Nestes casos, e também em situações de luto, a Liga Portuguesa Contra o Cancro disponibiliza apoio psicológico especializado aos doentes oncológicos e familiares, através das suas Unidades de Psico-Oncologia, que pode consultar aqui.

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