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António Tinoco

56 anos Mama, 2010, Doente
Pediram-me para dar testemunho da minha caminhada, eu diria da travessia do deserto. Ao longo deste percurso experimentamos todas as transformações, quer psicológicas, quer físicas. Eu dou mais importância às primeiras, uma vez que, nestes casos, é a mente mais ou menos forte que nos conduz a formas mais ou menos corajosas de encararmos a enfermidade.Eu tive Cancro da Mama. Sou homem. Pois é, sou homem. Este não é um problema só de mulheres. Não são só as senhoras que sofrem deste mal. Digo, sinceramente, que quando fiz o primeiro alerta sobre a forma, algo estranha, como o meu mamilo se estava a desenvolver, e me foi dito para estar descansado que não era nada com que me tivesse que preocupar, eu de facto fiquei descansado. Aliás por essa altura, e estamos a falar mais ou menos de um período de 4 anos antes da data da operação, quando estava numa consulta de Dermatologia, porque sempre me interessei pelos assuntos de saúde em geral e pela minha em particular, tinha que fazer a pergunta ao médico que me estava a consultar. A resposta foi aquela que eu já referi em cima. Mas agora, neste momento, atualmente pouca importância dou ao que aconteceu, sabem porquê? Porque o que um médico achou que não era importante, passado todo aquele tempo, duas médicas acharam na sua eficaz missão de cuidar e estar atentas às várias situações que os seus consultados podem apresentar. Fizeram logo um rápido diagnóstico que, mais tarde, com todos os exames feitos, se viria a confirmar o que eu tinha. Esta súmula rápida representa águas passadas!Quero dizer-vos que ao longo dos 4 anos que distam entre o meu primeiro alerta e o diagnóstico final, eu, mais que ninguém, tenho as minhas culpas, e por isso já fiz várias vezes o reconhecimento da mea culpa. Meu Deus, eu olhava todos os dias para o meu corpo, eu via o estado em que estava o meu mamilo; mais tarde, até eu próprio tratava, lavando o líquido, que se tornava crosta, de tão gretado que estava.Não sejam como eu. Ao mínimo sinal, quando acharem que algo não está bem, queixem-se. Mas façam-no com veemência. Nos dias que correm, todo o cuidado é pouco. Um mês, uma semana, um dia, poderá ser tarde demais. E nunca, mas nunca se fiquem só com uma opinião. Procurem sempre uma segunda. Não por falta de confiança, mas sim para ficarem absolutamente conhecedores do que está a acontecer.A vida é efémera. Quem a ama não a desleixa. E quem a desleixa corre riscos. E como todos sabemos, riscos muito sérios.Graças a Deus, a minha recuperação, tem sido boa. Com a força que me vem do alto e a Fé que enche o coração tenho ultrapassado todas as fases por que temos de passar. Todos sabem quais são: operação, quimioterapia, radioterapia, queda de cabelo, todas as alterações no nosso corpo, as depressões, a revolta e a raiva, enfim, uma descrição enorme de situações que se não tivermos uma grande fé, digo até, de convicção prática e com total desprendimento, entregando-nos por inteiro a Deus, vivendo um dia de cada vez, não nos preocupando com projetos megalómanos, enfim, levando uma vida serena, tranquila e com o coração cheio de paz. Foi assim que eu fui aprendendo a viver o meu dia a dia. É verdade que sozinhos não conseguimos. A família é importante, os amigos são importantes. Tê-los à nossa volta, formando uma corrente de amizade e amor, é o maior dos remédios que alguma vez podemos tomar. A recuperação é fantástica. Se algo não corre bem, o carinho é o bálsamo que atenua a dor e o mal estar.Eu senti tudo isto. Este é o meu testemunho verdadeiro. Estou forte psicologicamente. Talvez não esteja tanto fisicamente, mas é gratificante, meus amigos e amigas, oferecermos a nossa dor em favor do conforto e do bem estar daqueles que mais sofrem.Um último conselho: abeirem-se, procurem, desinibam-se, libertem-se de todos esses receios e procurem os maravilhosos profissionais (grandes amigos, diria até, amigos para sempre) da Liga Portuguesa Contra o Cancro, na especialidade de Psico-Oncologia.Um abraço para todos. Tenham fé, Deus é grande. E as melhoras para todos.
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