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Catarina

34 anos Tiróide, 2015, Doente
Era saudável. Praticava exercício físico, fazia uma excelente alimentação, e tinha deixado de fumar há 3 anos.
Tinha 31 anos quando um nódulo ficou saliente na minha traqueia. Dirigi-me à minha médica de família que após palpação pediu a biópsia. A biópsia!!! Logo ali a vida faz pausa. O resultado é longínquo. Até lá lidas com a palavra, o nome do exame. Informei a minha família nuclear. Sempre unida e coesa. Fiz o exame com a tranquilidade de uma intuição que previa o diagnóstico: Carcinoma. A tiróide? Funcionava perfeitamente. Não tinha oscilações hormonais, de peso ou de humor. Estava excelente aliás! Mas os exames disserem que tinha dois nódulos agarrados à minha "borboleta" (a forma que o órgão da tiróide possui) e que um deles pelo seu tamanho e malignidade obrigavam à remoção total da tiróide. "Não faz mal", disseram os médicos, que muito bem me acompanharam, "o cancro na tiróide é o melhor de todos para se ter", "a taxa de cura e de sobrevivência é a mais elevada".
Fico resignada. Porque na verdade, ninguém aos 31 anos de idade fica feliz por lhe falaram das altas probabilidades de sobrevivência. Hem? Ainda estou a começar a vida... que taxa é essa? Mas fui. Com segurança e fortaleza para uma cirurgia que me marcaria o pescoço, para que me lembrasse dele, o Cancro, de cada vez que me olhasse ao espelho. Foi tudo rápido. Do diagnóstico à cirurgia foram 2 meses.
Comecei o Janeiro de 2015 assim. Foi um choque ver as cicatrizes, que rapidamente me pareceram mínimas. Pois o pior, o pior vem depois. É que os dois nódulos eram malignos, mas bastava um para me submeter ao iodo131. Dois meses sem tiróide ou medicação de substituição? É o nada. É o vazio. Segue-se um internamento de 3 dias em isolamento em ambiente hospitalar. Segue-se 15 dias de isolamento em casa. És só tu e mais nada. Tenho a sorte de ser muito amada. O amor foi fundamental. Saber que estamos sempre com alguém...mesmo quando estamos sozinhos. O após é duro. O ajuste da medicação (crónica) é lento. Sem tiróide o corpo não tem energia. Para pensar, raciocinar, digerir, movimentar-se. Ficas ali. Não pode sair, porque te desorientas. Não conduzes, pois não tens reflexos. Não terminas uma tarefa porque te cansas ou perdes o fio condutor. Fiquei inchada. E engordei. Não tinha força para fazer o exercício físico que tanto me fazia falta...e a medicação tem os seus efeitos secundários. De 3 em 3 meses fiz o controle. E quando começava a ficar melhor...restaram dúvidas. O Cancro, essa entidade que nos tira tudo, resistiu. Nem a radioactividade, nem a minha força, nem o amor dos que me rodeavam foi mais forte.
O Cancro dá luta! Mais uma biópsia, mais uma temporada sem medicação, mais iodo 131. Mais isolamento, mais pausa na vida. Em 2017 fiz 2 cintigrafias que me obrigaram a interromper a medicação nas 2 vezes. Meio ano de nada. Só a espera...só dor. Quando o enfrentei, fui com toda a força. Era um desafio para superar. Quando ele persistiu, fui abaixo. Cansei. Pensei em desistir. Ele, o Cancro, tira-te tudo. Tudo o que tens como garantido. O sentir uma brisa no parque, o caminhar com um amigo, o estar presente em momentos importantes para os teus, a vontade de sair, as gargalhadas...tudo. O Cancro tira-te tudo. Tira-te de ti mesma. Sofres pela doença e vês os teus a sofrer com ela. As salas de espera são Doutoramentos. Entrava e deixava o meu pai para trás. Nem imagino como seria para ele ver-me entrar ali. Ali onde todos tinham a cabeça baixa. Onde todos são pálidos e inchados e descrentes. Onde os olhares se trocam com cumplicidade. A tua dor é semelhante. Não é igual. Cada um sabe de si mesmo. Porque esta Entidade que é o Cancro.. é diversa. Nenhum é igual. Só cada um sabe do seu... Cancro. Os conselhos, os testemunhos são fundamentais, sobretudo de quem conhece a doença na 1ª pessoa. O apoio familiar, os amigos, a estabilidade no emprego, um companheiro que te ama apesar das mutações do teu corpo, são basilares. São solo seguro onde podes caminhar e sentir-te amparada. Mas não posso mentir, a caminhada é solitária. Pois só tu sabes.
Em Novembro de 2017 disserem que estava "limpinha". Desde então tenho retomado a vida aos poucos. A retoma da medicação não é imediata. Demora o seu tempo a voltar a ser eu mesma. Já fiz controlo entretanto. O medo não desaparece. Na minha mente, está a meta do próximo controlo.
Cada um é cada qual. Para além da medicação que terei de tomar sempre, tomo também outra medicação que ajuda o meu metabolismo a absorver melhor o que preciso. Também não posso esquecer de tomar estes, pois o corpo dá logo o alerta! A cicatriz está muito bonita! A cirurgiã fez um trabalho de excelência. Retomei o exercício físico e estou a voltar ao meu corpo.
E hoje sei que o Amor Cura! Mas também sei que só cada um sabe e conhece a sua dor. Não há lugar para julgamentos ou questões. Cada doente sabe o que é a sua doença. Assim como, cada sobrevivente sabe o que foi a sua luta! Tenho 34 anos, sou sobrevivente e só eu conheci o meu Cancro.
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