Testemunhos QUEBRAR O SILÊNCIO
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Clara Vasconcelos
26 anos Tiróide, 2009, Doente Depois de ler todos estes testemunhos, noto que (quase) todos pensamos o mesmo: “A mim não me vai acontecer nada!” Mas acontece, aconteceu e continua a acontecer todos os dias. Naquele dia, nem um mês tinha de casamento, tinha imensos projetos, imensas ideias, tinha um emprego novo, uma casa, uma vida completamente diferente e, de repente, leio o diagnóstico! Não me lembro como cheguei a casa depois de ler aquilo, só consegui dizer ao meu marido “eu não quero morrer!”. Fui operada 10 dias depois, fiz uma tiroidectomia total, um tratamento com iodo radioativo e, desde então ando sempre a ser vigiada. Lembro-me que só queria ser operada, para me tirarem aquilo dentro de mim. O tratamento com o iodo não é muito doloroso mas temos de estar afastados dos que gostamos, ainda por cima numa fase em que estamos tão vulneráveis, é duro! Finalmente, um ano depois do tratamento, fiz os exames, até hoje não houve nenhuma reincidência. Quando ouvi da médica dizer “pode voltar a ter uma vida normal” foi dos dias mais felizes da minha vida, senti que podia voltar a viver naquele ponto em que tudo parou, naquele ponto em que deixei de sonhar com o futuro porque não sabia o que ele me reservava. Hoje, dou Graças a deus, aos médicos que me assistiram e à minha família, se não fossem eles, nada fazia sentido! Ninguém está preparado para ouvir que tem um cancro, infelizmente é como se nos ditassem uma sentença de morte sem termos feito nada para a merecer, é duro, é avassalador, é um sentimento que não tem explicação, não há como descrevê-lo. Resta-me só escrever o que uma sobrinha minha disse quando se apercebeu que alguma coisa de errado se passava comigo. A minha irmã disse-lhe que eu ia ter de ser operada a um órgão chamado tiroide e que estava doente. A pequenina tinha quatro anos na altura e aparece-me à frente com o sobrolho franzido, com um ar de quem vai bater em alguém, as mãos nas ancas e pergunta-me com um olhar desafiador: “mas afinal o que é que esse tiroido faz!” Nesse momento percebi que eu tenho de viver, não poderia perder esta vida maravilhosa e dos que me rodeiam, os que fazem a minha vida e os que são a minha vida e a minha razão de aqui estar!
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