Testemunhos QUEBRAR O SILÊNCIO
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Cristina Coelho da Silva Alves
52 anos Pulmão, 2012, Doente Em Julho de 2012 sentia-me mais cansada e sem vontade de fazer nada. Atribui ao facto de ter sido um ano muito intenso de trabalho e mesmo as dores no ombro que sentia, se deviam ao facto de trabalhar muito com o braço direito.
Fomos passar o mês de agosto fora. A dor no ombro foi-se agravando e já nem a carteira leve era suportável. Fui atribuindo a calcificações e tendinites e não liguei. Em meados de agosto, após vir da praia e me arranjar, ao colocar creme hidratante deparei-me com um nódulo junto ao pescoço e clavícula. Este foi o botão de alarme. Depois foi pesquisar no Dr Google e perceber que mesmo sem tosse, expeturacao, sangue, perda de peso..., deveria procurar ajuda médica. Em setembro, dia 2, estava a fazer uma ecografia. Nesse dia não tive mais dúvidas. Estava cheia de nódulos e era urgente fazer uma avaliação mais séria. Biópsia, análise e confirmação. Dei entrada no IPO do Porto onde me foi diagnosticado um Adenocarcinoma Pulmonar IIIB.
Fiz rádio e quimio. As minhas médicas quer de rádio quer de quimio foram e são espetaculares. O tratamento foi “pesado” dada a localização e estadiamento. Fisicamente cheguei perto do “farrapo humano” com uma magreza extrema, sem pelo, meia amarela da rádio e umas olheiras jeitosas...
Todos os dias da semana me levantava as sete e trinta. Tomava banho, pintava-me e arranjava-me, dando cor ao meu rosto. Vestia roupas confortáveis mas que me ficassem bem e me fizessem sentir “bonita”. Talvez assim parecesse menos doente para os meus três filhos, pais, marido e até para mim própria.
A cada dia que passava a dor esofágica era maior. Por fim, tive de recorrer a morfina de ação prolongada e outra de ação imediata para conseguir continuar a alimentar-me sem necessitar de ser entubada.
Em Dezembro de 2012, dia 26, fiz a minha última quimio. Até hoje o cancro está “queimadinho” e sem atividade. Em Julho de 2013 voltei ao serviço, sou professora na área das artes. Foi muito importante sentir que estava VIVA, continuava a poder ser útil e fazer o que mais gosto.
Sequelas? Na altura da quimio e radio deixei de sentir os dedos das mãos, as picadas e dores nos tornozelos e pernas eram muito incomodativas. As dores no corpo todo eram reais e faziam-me parecer uma velhinha a sair do carro. Todas as articulações e músculos doíam. A memória estava um caco e muito lenta no raciocínio.
As dores provocada por uma esofagite radica aguda grave eram muitas. E a pele na zona irradiada já apresentava queimaduras de segundo grau. Tudo isto num corpo de quarenta e poucos kilos, a vestir o nr 32 de calças num corpo com 169 de altura.
Passados mais de seis anos, 90% dos sintomas já desapareceram, aliás a sua maioria tinham desaparecido em intensidade alguns meses após terminar os tratamentos.
Resta um cansaço mais fácil, um corpo mais frágil fisicamente, um corpo que necessita de mais tempo de descanso do que anteriormente. Uma memória fragilizada onde os cadernos são um bom amigo. Dificuldade de concentração que piora se não existe descanso.
Ainda resta algum incómodo a engolir, principalmente se estou com o rosto virado para o lado...(...).
MAS ESTOU VIVA!
E se este é o preço para cá estar com 5 a 7% de sobrevida.... é um preço justo! A vida é boa, adoro cá estar e só peço mais “muitos dias” para poder ser avó, sogra, ver os meus filhos serem felizes e poder acompanhar os meus pais na velhice.
Tive um marido espetacular, que em todos os momentos me fez sentir única, linda e amada. Uns filhos heróis que nunca desistiram ou foram abaixo. Uns pais espetaculares e como devem ter sofrido.... O meu pai é de cirurgia geral (reformado) mas esteve sempre informado de tudo.
Ter um cancro é duro..... (...).
Resta dizer que o caminho torna-se mais fácil com um sorriso, muito amor, muita fé e acreditando na equipa que nos trata. Estar consciente do que nos é feito, caso necessitem pedir segunda opinião, é muito importante. O processo é duro mas cada vez mais a taxa de sucesso é maior e a VIDA É MUITO BOA.
Toda a sorte do mundo para quem estava a iniciar este caminho!
Fomos passar o mês de agosto fora. A dor no ombro foi-se agravando e já nem a carteira leve era suportável. Fui atribuindo a calcificações e tendinites e não liguei. Em meados de agosto, após vir da praia e me arranjar, ao colocar creme hidratante deparei-me com um nódulo junto ao pescoço e clavícula. Este foi o botão de alarme. Depois foi pesquisar no Dr Google e perceber que mesmo sem tosse, expeturacao, sangue, perda de peso..., deveria procurar ajuda médica. Em setembro, dia 2, estava a fazer uma ecografia. Nesse dia não tive mais dúvidas. Estava cheia de nódulos e era urgente fazer uma avaliação mais séria. Biópsia, análise e confirmação. Dei entrada no IPO do Porto onde me foi diagnosticado um Adenocarcinoma Pulmonar IIIB.
Fiz rádio e quimio. As minhas médicas quer de rádio quer de quimio foram e são espetaculares. O tratamento foi “pesado” dada a localização e estadiamento. Fisicamente cheguei perto do “farrapo humano” com uma magreza extrema, sem pelo, meia amarela da rádio e umas olheiras jeitosas...
Todos os dias da semana me levantava as sete e trinta. Tomava banho, pintava-me e arranjava-me, dando cor ao meu rosto. Vestia roupas confortáveis mas que me ficassem bem e me fizessem sentir “bonita”. Talvez assim parecesse menos doente para os meus três filhos, pais, marido e até para mim própria.
A cada dia que passava a dor esofágica era maior. Por fim, tive de recorrer a morfina de ação prolongada e outra de ação imediata para conseguir continuar a alimentar-me sem necessitar de ser entubada.
Em Dezembro de 2012, dia 26, fiz a minha última quimio. Até hoje o cancro está “queimadinho” e sem atividade. Em Julho de 2013 voltei ao serviço, sou professora na área das artes. Foi muito importante sentir que estava VIVA, continuava a poder ser útil e fazer o que mais gosto.
Sequelas? Na altura da quimio e radio deixei de sentir os dedos das mãos, as picadas e dores nos tornozelos e pernas eram muito incomodativas. As dores no corpo todo eram reais e faziam-me parecer uma velhinha a sair do carro. Todas as articulações e músculos doíam. A memória estava um caco e muito lenta no raciocínio.
As dores provocada por uma esofagite radica aguda grave eram muitas. E a pele na zona irradiada já apresentava queimaduras de segundo grau. Tudo isto num corpo de quarenta e poucos kilos, a vestir o nr 32 de calças num corpo com 169 de altura.
Passados mais de seis anos, 90% dos sintomas já desapareceram, aliás a sua maioria tinham desaparecido em intensidade alguns meses após terminar os tratamentos.
Resta um cansaço mais fácil, um corpo mais frágil fisicamente, um corpo que necessita de mais tempo de descanso do que anteriormente. Uma memória fragilizada onde os cadernos são um bom amigo. Dificuldade de concentração que piora se não existe descanso.
Ainda resta algum incómodo a engolir, principalmente se estou com o rosto virado para o lado...(...).
MAS ESTOU VIVA!
E se este é o preço para cá estar com 5 a 7% de sobrevida.... é um preço justo! A vida é boa, adoro cá estar e só peço mais “muitos dias” para poder ser avó, sogra, ver os meus filhos serem felizes e poder acompanhar os meus pais na velhice.
Tive um marido espetacular, que em todos os momentos me fez sentir única, linda e amada. Uns filhos heróis que nunca desistiram ou foram abaixo. Uns pais espetaculares e como devem ter sofrido.... O meu pai é de cirurgia geral (reformado) mas esteve sempre informado de tudo.
Ter um cancro é duro..... (...).
Resta dizer que o caminho torna-se mais fácil com um sorriso, muito amor, muita fé e acreditando na equipa que nos trata. Estar consciente do que nos é feito, caso necessitem pedir segunda opinião, é muito importante. O processo é duro mas cada vez mais a taxa de sucesso é maior e a VIDA É MUITO BOA.
Toda a sorte do mundo para quem estava a iniciar este caminho!
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