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Diana Isabel da Silva Costa

18 anos Leucemia, 2004, Doente
No dia 11 de fevereiro de 2004 foi-me diagnosticada uma leucemia mieloblástica aguda. Nessa altura tinha 11 anos, pelo que não estava preparada para encarar um problema daquela dimensão. Por um lado, era muito inocente e não tinha noção da gravidade do problema em si. Por outro lado, quando ouvia falar em cancro percebia logo que era mesmo grave. Só essa palavra metia medo! No IPO, no consultório, a médica citava o diagnóstico e os meus pais choravam. Eu chorava também mas não por ter percebido o que tinha, o problema era a médica ter dito que tinha que ficar internada, isso assustava-me mas, mesmo assim, pensei que fosse só um dia ou dois. Porém, já no internamento, excelentes enfermeiros deram-me um livrinho com uns desenhos que explicavam o que era a leucemia e os tratamentos que teria de fazer, assim como as suas consequências. Quando percebi que ia ter que fazer quimioterapia e que o cabelo me iria cair fiquei mesmo muito triste. Essa era a parte que mais me preocupava. Não estava preocupada com o problema em si pois penso que não tinha consciência de tudo o que estava a acontecer à minha volta. Cair-me o cabelo, deixar de ir à escola e estar com os meus amigos, com a minha família era o que me deixava mais em baixo. No entanto, penso que não mostrei essa minha tristeza inicial pois sabia que estavam todos tristes e não queria que ficassem mais por me verem a mim também. Lembro-me que na primeira noite que passei no IPO, quando me deitei, caíram-me muitas lágrimas, estava triste, assustada e só perguntava “porquê a mim?”. Porém, o tempo foi passando e percebi que dificilmente iria encontrar uma resposta para todas as perguntas que me assombravam. Aconteceu-me a mim como já tinha acontecido a muita gente e como poderia acontecer a qualquer pessoa. Por isso, tracei um objetivo: vencer aquela doença. Penso que o facto de ter aquela idade e não ter muita noção do que se estava a suceder me ajudou a isso. Mas, seja como for, eu quis lutar e fiz tudo para estar o mais animada possível e para que tudo passasse depressa. Queria imenso voltar à escola e fazer a minha vida normal. Com o tempo, o cabelo deixou de ser uma das preocupações centrais pois ele iria crescer outra vez, e mais forte se calhar, portanto isso não era uma preocupação fulcral. Passei a dar mais valor às pessoas que estavam à minha volta e percebi quem eram os meus verdadeiros amigos. Tive muito apoio, quer dos meus amigos quer da minha família. Os meus primos passavam imensas tardes comigo no hospital, jogávamos monopólio, conversávamos e fazíamos imensas coisas juntos. A minha mãe passava os dias comigo e o meu pai ia lá durante a semana e ao fim-de-semana ficava ele comigo. No meio de tudo o meu irmão que tinha quatro anos na altura é que se viu sem a mãe e a irmã durante um tempinho. Estive um tempo seguido internada mas apesar de tudo estava bem entregue, os enfermeiros prestam um apoio incondicional, assim como as educadoras e as voluntárias. Senti-me bastante apoiada por todos. Por vezes, tinha imensa vontade de chorar mas isso também não iria resolver a situação, por isso fazia de tudo para estar feliz. Quando acabei os tratamentos voltei à escola, um dos dias mais felizes desse tempo. O tempo foi avançando e nunca tive nenhuma recaída. Tinha vários objetivos e hoje, sete anos depois, concretizei-os quase a todos! Entrei na faculdade que sempre quis, no curso que sempre idealizei, tirei a carta... Fiz tudo para nunca desistir, o mais importante é acreditar que tudo se vai resolver e manter um sorriso na face. Aprendi que nunca devemos desistir do que queremos verdadeiramente, a vida foi feita para disfrutarmos dela e todos temos esse direito, não é um contratempo mais grave que nos vai derrotar, portanto nunca desistam! Apesar dos momentos menos bons, foi graças a tudo isto que me tornei uma pessoa melhor, conheci pessoas incríveis, com uma capacidade de lutar e de enfrentar os problemas enorme. Por vezes eu própria não acredito que fui capaz, mas o que interessa é que consegui e com muita força e vontade tudo é mais fácil!
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