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Elisabete Carvalho

19 anos Colo do Útero, 2010, Doente
Com 18 anos foi-me diagnosticado um carcinoma de células claras no colo do útero. Uma espécie rara de tumor, que faz com que eu acumule as células cancerígenas e não as consiga expulsar. Duas semanas após o diagnóstico, dei entrada no IPO para a remoção do tumor e do útero como consequência. Durante uma semana fiquei internada e os meus familiares visitavam-me diariamente, fazendo vários quilómetros todos os dias para que pudessem estar ali comigo. Em todo o tempo que estive internada, apercebi-me que o que mais me custava na doença não era o facto de estar naquela posição, mas sim ver os meus pais e as irmãs a verem-me sem forças, sem andar, completamente nas minhas últimas reservas de força. Graças ao estado em que me encontrava, as pessoas em meu redor foram obrigadas a mudar o seu dia-a-dia em minha função. O que mais me custava era ficar naquela cama de hospital e ver os meus pais a irem para casa e eu ficar sozinha, a remoer sobre o que se estava a passar comigo. Ao fim de uma semana tive alta, e a minha recuperação era exatamente a recuperação de uma mulher de acabou de fazer uma cesariana, não podendo subir escadas, dormir completamente esticada na cama era algo impossível devido às dores, ser dependente das minhas irmãs e dos meus pais para tomar banho, sendo que a imagem que mais me custou nisto é mesmo a minha irmã a dar-me banho pois não tinha condições de me lavar sozinha. Posso dizer que reagi muito bem ao que se passou comigo, pois andava sempre com um sorriso no rosto e a brincar com a situação, pelo menos tentava demonstrar isso, para que as pessoas que vivem comigo não notassem que poderia estar mal e, ao mesmo tempo, alegrá-las. Um mês depois fiz braquiterapia e, por incrível que pareça, acho que isso foi o que mais me custou, pois tendo em conta que sou uma pessoa muito ativa, durante o tratamento não tinha forças nem vontade para fazer o que quer que fosse. Era capaz de dormir o dia todo e sempre com vontade de dormir mais, de cansaço. Houve um período de revolta com a vida, em que não aceitei muito bem o que se tinha passado comigo, então o que queria era estar com os meus amigos e fazer coisas que não pude fazer antes de saber que tinha o cancro. Apercebi-me que a atitude que os meus pais tiveram depois de todo o sufoco que os fiz passar, foi um pouco “Deixa-a! Só se quer divertir e aproveitar!”, chegando ao ponto de perder um pouco os limites das coisas, acabando os dias a chorar no meu quarto com medo de no dia de amanhã estar novamente doente. Essa ideia ainda está muito presente, mas posso dizer que as pessoas que me conheceram nos meus dois anos de Faculdade, todas me consideram ser uma pessoa muito alegre e que gostava de se divertir dentro das minhas condições. De 3 em 3 meses tenho que me deslocar para exames de rotina, e sei que comigo os meus pais estão a gastar os seus fundos para que eu tenha uma vida dita normal sem a ideia de estar doente e do amanhã ser incerto. O que mais agradeço foi o modo como as pessoas me ajudaram a reagir, pois graças ao facto de ver as pessoas a sorrir a meu lado, dava-me vontade de sorrir com eles e pensar que o amanhã é incerto para mim, portadora de cancro, mas também é incerto para uma pessoa saudável. Levei a doença um pouco como uma gripe, um bocadinho séria, pois se encarasse como sendo o que realmente é, devo dizer que ao fim de um mês de ser operada, não estava a andar na rua de muletas e a ver as coisas fantásticas que a vida ainda tinha para me oferecer. Considero que quando estamos nos tratamentos não devemos pensar muito no que se passa. Devemos ter consciência, mas não fazer disso um drama, pois quando nos encontramos controlados do nosso pequeno problema, vamo-nos rir das coisas que passamos e aprendemos a viver os reais valores que nos ensinaram.
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