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hugo santos

29 anos Mama, 2008, Familiar
Em janeiro de 2008, eu e a minha mulher estávamos super felizes. Descobrimos que ela estava grávida do nosso segundo filho. Tínhamos tido o primeiro em outubro de 2006. Estávamos no céu. Fomos ver a primeira ecografia do segundo filho. Por incrível que pareça (até filmei) o feto disse-me adeus ou olá. Nessa mesma consulta eu insisti com o médico que queria que fizessem um exame à minha mulher ao peito porque ela tinha um caroço que não era normal. Ele dizia que era normal, mas depois de muito insistir, assim foi. Dois ou três dias depois foi fazer o exame. No dia a seguir, telefonaram-nos para lá irmos porque não tinham boas notícias. Depressa descemos do céu ao inferno. Dois cancros no peito esquerdo e um no direito, aos 27 anos. Primeiro tivemos que decidir guardar ou não guardar o bebé. Ainda hoje a minha mulher se culpa de ter tirado o bebé. Mas a decisão foi dos dois, não queria por nada perder a minha mulher, nem que o meu filho nascesse com problemas devido a todos os tratamentos. Depois… depois, ver os muros crescer à nossa volta. Estavamos e ainda estamos a viver na Suíça. Ela nunca tinha trabalhado aqui, porque veio para cá grávida do nosso primeiro filho. Logo nem desemprego nem baixa médica. Só um salário para uma família. Aqui na Suíça não é nada fácil. Mas isso é o menos porque pela minha família trabalhei e trabalho noite e dia. Mas ter que trabalhar noite e dia, estarmos sozinhos na Suíça e tudo o que o cancro traz com ele. Passamos muitos momentos difíceis. Também me fez crescer muito. Agradeço imenso a Liga Contra o Cancro Suíça. Foi quase a única ajuda que tivemos, para além da ajuda dos poucos amigos que temos aqui. Sei que o que a minha mulher passou ninguém o merece. Custou-me tanto rapar-lhe o cabelo, vê-la perder os peitos, vê-la passar pela quimioterapia. Mas eu e o meu filho também sofremos bastante. O meu filho até parou de crescer na altura pior do tratamento. Eu por muito que me custe, porque o dinheiro para mim não me dá felicidade, mas passei o tempo a matar a cabeça, noite e dia para arranjar soluções para pagar as faturas, que aqui não são nada meigas. É frustrante matar-me a trabalhar e não conseguir nem sobreviver, ter que pedir ajuda à Liga incomodou-me bastante. Mas com muita luta fomos conseguindo. Infelizmente tudo isto, não sei como, mas destruiu o nosso amor. Tornou-se insustentável, mas não há uma razão! Estamos juntos pelo nosso filho e continuo a adorar a minha mulher. Mas destruiu-nos. Infelizmente também, em janeiro de 2011 antes da última operação de reconstrução, já a minha mulher tinha um trabalho para depois da operação, já tinha acabado o tratamento mais pesado. Mesmo com dividas até aos cabelos, começávamos a ver a luz. Encontraram outro cancro no peito esquerdo, pequeno mas real. Já foi operada e está a espera da decisão. Se é operada outra vez, e os tratamentos que vai fazer, a radioterapia é certa! Quero voltar para o meu país! Mas não posso, a minha mulher vai ter que se tratar até ao fim, mesmo que não nos demos bem (como marido e mulher), vamos levar esta luta até ao fim, também estou enterrado de dívidas porque sou o único que trabalha logo não é suficiente, conclusão estou preso neste país a agoniar. Há mais de dois anos que a minha mulher não tem peitos, nunca deixamos de fazer amor. E é sempre bom. Nunca procurei outra mulher, não nego que mexe comigo quando passo por uma mulher com um decote mais extravagante. Mas não troco a minha mulher por umas “mamas”. A luta é demasiado difícil, só eu sei por tudo o que passei. Neste momento estou perdido, desesperado, corre-me a raiva nas veias, quero voltar para o meu país e não posso. Mas pela minha mulher, contra o cancro, luto até ao fim (muita desta força ganho-a assim que olho para o meu filho, a coisa mais preciosa que tenho).
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