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JOAO

36 anos Mama, 2010, Familiar
Faz dois anos (2010) em que foi diagnosticado um cancro no peito da minha esposa, não aceitou o problema que tinha e mentiu. Lembro como se fosse hoje: fui com ela ao IPO, quando saiu da consulta e depois de ter falado com os médicos, chega junto de mim lavada em lágrimas, nessa altura não estava a entender o que se passava. Acalmei-a e perguntei o que se tinha passado, em resposta disse que tinha um pequeno tumor benigno, algo que se resolveria sem grandes preocupações. Daí em diante, e sem eu saber da realidade do problema, faltava às consultas, não mostrava preocupação, cada vez que tocava no assunto irritava-se ou desviava simplesmente a conversa, recebia cartas do hospital e para eu não as ver simplesmente as destruía ou escondia. A minha esposa, com o passar do tempo e aos poucos, deixou de ser aquela linda mulher por quem me apaixonei, não tinha paciência, qualquer motivo já era suficiente para discutir, o comportamento foi-se agravando a cada dia que passava e por muito que tentasse perceber não entendia. A última discussão foi de mais, gritou, tentava acalmar, mas nada. Dizia que estava farta de mim, até me disse para sair de casa; tentava perceber o porquê e perguntava mais uma vez, quanto mais tentava mais ela ficava irritada ao ponto até de chamar a guarda e fazer queixa de mim. Lógico, aí fui embora, deixei-a. Passados dois dias pede perdão, pede para que volte para casa prometendo que iria ter mais paciência e que não se voltava a repetir, que queria ser feliz junto de mim. Depois de ter voltado ainda vieram outras discussões. Por tanto amar a minha esposa aguentei firme a tudo. Minha esposa para além de ter o problema que já sabem, também tem insuficiência renal e desde há dois meses atrás queixava-se das costas, dores de cabeça, dormia mal, chegou a um ponto que nem conseguia comer. Um certo dia, com muitas dores, foi para o hospital, ficou internada. No dia seguinte, fui ao hospital. Parecia dentro do possível bem, mas no outro dia estava mesmo muito mal, foi administrada morfina, estava ligada a oxigénio e uma máquina que não sei para qual era o efeito, penso que era para medir a tensão e os batimentos do coração, estava mesmo muito mal. Fui falar com uma médica, a médica perguntou se eu já sabia o que ela tinha, é claro que não era conhecedor de toda a verdade e queria saber o que se passava. A médica responde que sabia perfeitamente o grave problema que ela tinha no peito e que nunca quis saber e, como ela, também eu não. Dada a gravidade da situação perguntei, de uma escala de 0 a 10 quais as hipóteses que ela tinha, a médica responde 3. De seguida, pergunta se o nosso filho não se ia despedir da mãe. Meus amigos/as, foi horrível. Nesse mesmo instante estava ela a ser preparada para ir de máxima urgência para o hospital, passou por mim enquanto falava com a médica, deitada na maca e já sem sentidos. Nesse momento tive raiva, ódio, a vida para mim estaria a perder todo o sentido, estava completamente à deriva, lembrei do que a minha sogra tinha dito, disse que a filha estaria a viver um dia de cada vez, que não podia fazer nada, que seria o mesmo que ver sua filha deitada numa linha de comboio e nada fazer. É verdade, minha sogra pediu ajuda e até disse o que se passava, também é verdade que confrontei minha esposa com aquela verdade que a minha sogra me contou ao qual disse que a mãe só fazia filmes e para não acreditar em nada do que dizia. O meu grande erro foi acreditar na minha esposa. No hospital passou muito mal, os médicos diziam que a prioridade agora seriam os rins. Melhorou, começou a fazer hemodiálise, passado quase um mês de internamento recebe uma notícia bombástica. O médico, um dia antes de lhe dar alta, disse-lhe que teve muita sorte e que a vida lhe está a dar uma segunda oportunidade. O cancro de mama maligno que tem no peito não se desenvolveu, feliz da vida como é normal, liga-me e dá a boa notícia. No dia seguinte volta para casa e perguntei: porquê amor, porque me mentiste e ela muito serenamente respondeu que tinha medo. Atualmente vai fazer diálise dia sim, dia não e as coisas até nem estão a correr mal. Já foi operada ao peito na semana passada, foi retirado e correu tudo bem. Amo esta linda mulher e sabe bem que pode sempre contar comigo para tudo, estarei sempre do lado dela, para a saúde e doença. Foi uma sorte meus amigos, a vida deu-nos uma segunda oportunidade, só espero que ela confie em mim e que não volte a repetir o mesmo, pois foi o maior susto das nossas vidas. De agora em diante estarei mais atento, mas o importante é que aceitou finalmente o problema que tem e graças a Deus já foi operada e tudo correu bem. Abraços meus amigos!
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