Voltar

Maria Cristina Marques da Fonseca Oliveira

52 anos Mama, 2008, Doente
Com 48 anos, robusta e saudável, fui fazer a mamografia e ecografia de rotina. A demora do médico a observar e a comparar as radiografias, o pedido à auxiliar para uma maior ampliação, foram os primeiros sinais de que alguma coisa não estava bem. Face ao silêncio do médico, consegui, a custo, ganhar coragem e perguntei se havia algum problema. Respondeu vagamente e passámos para a ecografia onde o tempo parecia não ter fim. Penso que não houve um milímetro da mama que não tivesse sido meticulosamente observado. Com os exames concluídos, chegou finalmente o pré-diagnóstico. O médico explicou-me que tinha na mama esquerda micro-calcificações agrupadas cujo contorno e modo como se apresentavam eram indiciadores de malignidade. Explicou-me como devia proceder de forma a que a biopsia fosse feita o mais rápido possível; disse-me que previsivelmente estaríamos frente a uma situação não muito agressiva para mim. Enquanto o médico falava, o consultório tornava-se cada vez mais pequenino. Disse-me que ia de férias mas que deixaria o relatório feito para eu poder avançar com todo o processo. O consultório continuava a diminuir. Explicou-me uma segunda vez. O consultório quase me sufocava e esmagava pois as paredes estavam muito próximas de mim. Abriu a porta e pensei: se voltar a explicar eu fujo; duvido que o conseguiria fazer pois o chão fugia dos meus pés. Vesti-me e pela cara das outras senhoras eu devia estar da cor do papel. Lá fora esperava-me a minha filha, com 22 anos. Era Dia do Pai e tínhamos encomendado um bolo numa pastelaria próxima mas muito conhecida. Fomos buscar o bolo e pelo caminho fui explicando o que se passava comigo. De volta ao carro, com o bolo na mão, a minha filha propôs que seria ela a levar o carro. Mas quando ali chegou teve um ataque de choro; pedi-lhe as chaves e vim a conduzir. Apercebi-me, naquele momento, que conseguiria ter força para enfrentar a situação. Fui eu que, antes de saber o resultado da biopsia, tentei consciencializar o meu marido para o que realmente ia acontecer. O médico foi tão preciso nos pormenores que desde então eu estava consciente de que tinha um cancro e que, de acordo com o que me foi dito e escrito no relatório e aquilo que encontrei em sítios fidedignos na Internet, seria, provavelmente, um carcinoma ductal in situ; mas, para não ser surpreendida, preparei-me para outras hipóteses. Pensei que o meu marido já estaria preparado para o resultado, verifiquei que não. Quando demos a notícia à minha sogra fui eu que tive de lhe dar apoio e consolo e não ela a mim. Com a minha família foi a mesma coisa: eu é que abordava a situação de uma forma direta, com os pés assentes no chão e a cabeça "fora da areia". Quando o consultório não me esmagou e o chão não fugiu dos meus pés, o momento mais dramático para mim, pensei que aquilo que me poderia ajudar era ter uma atitude aberta, positiva e confiante. A força de vontade também valeu. Sou mastectomizada; passado um ano retirei um pequeno nódulo na mama direita; em Setembro de 2012, fui operada ao pulmão direito para retirar um nódulo. De cada vez que sou operada, no final digo sempre: mais uma vez, consegui passarno meio das pingas da chuva sem me molhar. Ando sempre em board-line mas isso não me retira a confiança (…). A prevenção tem de ser vista como um instrumento que nos ajudaa ter uma vida mais saudável, reduzindo o aparecimento de certas doenças. Não significa de todo que com a prevenção nada de mal nos acontece. Claro que sim; mas quanto mais saudável for uma pessoa maior é a probabilidade de ultrapassar uma adversidade que se nos atravesse no caminho (…).
Voltar

Outros Testemunhos

  • Perdi a minha irmã em outubro de 2010, com 37 anos. Certamente não é um caso de sucesso como gostaria de partilhar mas a vida, infelizmente, não é só...Irene Silva, 47 anos, Mama, 2008Ler mais
  • Em 2005 foi-me diagnosticado um cancro de mama, o que mais me custou foi o fato de ter duas filhas: uma de seis e a mais nova ainda não tinha dois anos....Sandra Santos, 42 anos, Mama, 2005Ler mais
  • Faz precisamente três anos que o mundo desabava em cima de mim: "A D Silvia tem cancro da mama....". Não! Era engano! Tinha que...Silvia Miranda, 46 anos, Mama, 2015Ler mais
  • Maternidade depois do cancro. O meu testemunho é de esperança porque, após me ter sido diagnosticado cancro aos 28 anos, quatro anos depois, engravidei...Guiomar Pereira, 28 anos, Mama, 2010Ler mais
  • Em junho de 1991, depois de uma mamografia, por causa de um pequeno “altinho” na parte inferior da mama esquerda, que teimava em não desaparecer, li no...Gabriela, 57 anos, Mama, 1991Ler mais
  • Olá! Sei que não estou só, sou uma de muitas... é espantosa a solidariedade entre as mulheres com cancro de mama! Quero aqui dizer que enfrentei o meu...Maria, 45 anos, Mama, 2010Ler mais
Apoios & Parcerias