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Maria Edite

54 anos Cérebro, 2001, Doente
Percorri com atenção os diversos testemunhos aqui apresentados e não consegui, de certo modo, chegar a uma conclusão: não há aqui testemunhos de doentes que, como eu, tiveram/têm tumores cerebrais. Se esta ausência for porque estão curados, a minha felicidade é total; a segunda hipótese é tão dolorosa que nem quero pensar nela! Em 2001, durante uma viagem de automóvel por França, fiquei totalmente sem audição, não conseguia ouvir o que me diziam, falar com alguém era um inferno porque não ouvia 99%. Lá, fui a um médico de urgência, o qual me atendeu maravilhosamente e a quem expliquei que teria de fazer a viagem de regresso de França a Portugal sozinha com o meu filho de 13 anos. Depois de me receitar uns medicamentos disse que em Portugal teriam provavelmente de me “picar” e logo que cheguei, fui de urgência a um otorrinolaringologista. Fui então operada ao ouvido direito, o que estava em pior estado e durante um mês fiquei bem. Passado esse mês, nova surdez total. Entretanto, nada de dores de cabeça, embora uma vez tenha desmaiado no trabalho, facto atribuído a uma descida de tensão arterial. O otorrinolaringologista, depois de me receitar novos medicamentos, sem efeito, mandou-me fazer uma TAC e uma Ressonância Magnética, onde descobriu que eu tinha um tumor cerebral de grandes proporções. O neurologista confirmou esse diagnóstico, afirmando que eu já tinha o tumor há muito tempo, embora fizesse a minha vida normal e tenha trabalhado até à véspera do internamento, sendo o meu trabalho exclusivamente de cariz intelectual e muito exigente, mas eu sempre tentei dar o máximo. Tanta pressa havia, que fui operada na altura do Natal, uma operação de 9 horas, da qual despertei cheia de vontade de viver e de festejar o Natal com a minha família. A recuperação foi lenta mas positiva, apenas o meu lado direito ficou um pouco “apanhado” devido a uma pequena paralisia facial. Já lá vão quase 10 anos e o acompanhamento médico nunca revelou que o meu estado tivesse piorado. Esta semana, ao fazer uma TAC de revisão, surgiram diversas palavras no relatório que não me têm deixado dormir e espero agora pelo resultado da Ressonância Magnética. Como digo, ainda não sei de fonte segura se o tumor voltou: palavras como metástases estão a deixar-me inquieta. Apenas não quero desistir, tenho os meus pais e o meu filho que precisam de mim e eu ainda quero fazer muitas coisas na vida. A todos os que partilham este espaço, quero dizer que peço por vós como peço para mim, e que lutarei até ao fim. Quero acreditar em quem uma vez afirmou que 50% da cura é a nossa vontade de viver.
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