Testemunhos QUEBRAR O SILÊNCIO
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Marlene Duarte
32 anos Mama, 2010, Doente Aos 32 anos, a vida sorri-nos todos os dias, principalmente quando temos um bebé a crescer dentro de nós, de repente perdemos esse bebé, por fatores alheios à nossa responsabilidade. (…) Na noite de Natal descobrimos que temos um peito que não está bem... Eu considero uma prenda, pois se não o descobrisse agora não estaria aqui, o menino Jesus avisou-me. Fiz ecografia e mamografia, identificaram 7 quistos. Bem, pode ser benigno e consequência da gravidez, diziam os médicos. Mas, passado um mês e meio, e após vários anti-inflamatórios, nada resultava, bendito médico que leu os manuais antigos de medicina onde vinha a falar de um cancro da mama muito raro (ele apenas ainda tinha conhecido um caso, nos seus 30 anos de carreira médica). Bendita desconfiança que me encaminhou diretamente para o IPO onde não queriam acreditar e tentaram de tudo, até que resolveram fazer a biópsia e lá estava a mudança radical da minha vida...maligno. A notícia foi dada com uma frieza que ainda hoje agradeço, pois se fosse de outra maneira não teria aceite como o fiz, nem tive tempo para chorar, saí daquele consultório e “empanturraram-me” com análises e exames, quimioterapia, cirurgia e radioterapia. O meu pilar, o meu porto de abrigo, uma filha linda “de morrer” com 4 anos que, quando viu a mãe com o cabelo rapado, disse: -“Mamã agora vais ser o meu nenuco”. O meu marido e a minha mãe estiveram sempre ao meu lado, nunca desistiram. (…) Nunca usei peruca e gostava de me ver ao espelho, na rua sempre andei sem lenço à exceção da escola da minha filha, para não chocar os meninos, e à frente dos meus pais que não aguentavam. Tive episódios hilariantes de pessoas contra os postes, pois ficavam a olhar. Fui o pilar de toda a família, mesmo estando mal nunca perdi o meu sorriso (…), toda a gente conhece o meu sorriso, quando se veem pessoas de quem se ama ir abaixo, vamos buscar forças não sei onde, mas eu tive-as e sei que os meus 50% foram ganhos através de perseverança mental e psicológica. Agora, aguardo que tenha ido de vez e dou outro sentido à vida, a mastectomia radical modificada deixou a sua marca e o meu braço está em stand-by, tirou férias. Mas, já que não cumpri a promessa em 2010, de ir à concentração de Faro na minha mota, fi-lo este ano. Sou maluca mas feliz e adoro viver e adoro a minha família. A esperança será sempre a última a morrer, enquanto puder vou prolongar a minha passagem, tenho um rebento lindo que precisa de mim.
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