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Nanci Patricia Ferreira Carvalho

19 anos Pulmão, Familiar
Há um ano atrás assisti à morte do meu avô. Sinto-me lisonjeada por isso. Cancro no pulmão… fumava cerca de 4 maços de tabaco por dia. Após 35 anos de ter deixado de fumar o “castigo” apareceu. Durou cerca de 7 anos, com uma força e coragem extraordinária. As coisas começaram a piorar quando metastizou para a cabeça. Como já referi, assisti à morte dele e auxiliei-o em tudo aquilo que podia e que desconhecia, dando o meu melhor. Há 2 meses atrás, o meu tio faleceu, com apenas 49 anos. Cancro na bexiga. Ao contrário do meu avô, nenhum comportamento que tivesse tido explicava o aparecimento. Começou a urinar sangue, o que o levou a procurar um médico. A minha passagem de ano foi passada nos cuidados paliativos do IPO. Desde dezembro que sou voluntária. Um dos meus objetivos é trabalhar nos cuidados paliativos e estar ao lado de tantas e tantas pessoas que têm direito a uma dignidade final. Não quero de forma alguma, com o meu testemunho, assustar quem o possa vir a ler. É apenas uma realidade e uma homenagem a duas pessoas, entre das quais, o meu Grandioso Avô, que lutaram até ao fim, como se estivessem apenas no início dos seus ciclos de vida. E quando muitas pessoas se sentem indignadas, ou culpam os médicos, por um final mais inaceitável, lembrem-se sempre da frase de um testemunho: “Ninguém sabe ao certo o percurso de um cancro e muito menos de uma vida”. Tudo tem um porquê e nada acontece por acaso. Penso que estas pessoas se sacrificaram para que possamos dar valor à vida, para acordarmos e questionarmos a nossa própria existência. Não, ninguém merece. Mas, infelizmente, enquanto não podemos controlar este destino macabro, vamos colaborar com tudo o que tivermos. Ao meu avô, ao meu tio, à minha avó, a todos os grandes voluntários, a toda a grande equipa de cuidados paliativos e a todas as pessoas que encaram e lutam por esta doença, um grande reconhecimento e louvor. Lembrem-se: Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria, é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, exceto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais. M. Cunningham: As Horas. É por isto mais que vos peço que lutem e que vos disponibilizem para amparar não só os nossos mas todos aqueles que precisam. E, ainda, que se amem a si próprios, para um dia não ser tarde. Coragem.
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