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Nelma Pimentel

22 anos Leucemia, 1993, Doente
Foi em fevereiro de 1993 que os meus pais ficaram a saber, através do IPO, que sofria de uma leucemia linfoblástica aguda. Na altura, com 5 anos apenas, não tinha noção do que se passava à minha volta e a minha vida mudou de um momento para o outro e eu sem entender o porquê. Antes de ser internada no IPO, estive noutro hospital do qual não guardo boas recordações. Habituada a dormir com os meus pais no quarto ao lado, disseram-me que isso não era possível e que tinha de dormir num quarto com mais 6 crianças. Chorava, via os meus pais ir embora e não percebia porque me deixavam ali. As poucas noites que passei nesse hospital foram passadas em branco. Quando chegou a hora de fazer o medulograma, pois já suspeitavam de leucemia, fui “arrastada” numa maca para dentro do bloco operatório, sem a minha mãe, que corria pelo corredor para tentar chegar a mim. Foram dias que tento não recordar. Após a operação enviaram-me finalmente para o IPO, onde estive internada na ala de pediatria. Lembro-me que a primeira pergunta que fiz foi: -A minha mãe pode ficar comigo? - a senhora sorriu e mostrou-me que tinha um quarto só para mim com um sofá cama, onde a minha mãe podia dormir e ficar comigo todos os dias. Foi uma realidade que vivi durante praticamente os 3 meses que estive internada. Nessa altura comecei a entender um pouco mais do que se passava: que estava doente, tinha um problema no sangue e por isso tinha de levar sangue de outras pessoas, tinha de fazer punções e muitas injeções... Durante todo o tratamento e sempre com a minha mãe e o meu pai ao meu lado tentei não verter uma única lágrima, pois sabia que os meus pais já estavam tristes e ainda iam ficar mais tristes se eu chorasse. Suportava a dor e tentava não me queixar, coisa que os médicos não entendiam como eu não “berrava” como as outras crianças. Fui seguida por um fantástico e carinhoso médico, que Deus tenha em descanso, e depois passei para uma médica, a qual me tratou sempre com carinho e palavras amigas. Guardo boas recordações daquele hospital, apesar de tudo. Com a quimioterapia caiu-me o cabelo e a radioterapia provocava-me indisposições, coisas que mais tarde compreendi que eram normais. Tive sempre a minha família do meu lado (pais, tios, avós) e uma grande surpresa quando soube que a minha avó materna, que vivia e trabalhava em Paris tinha vindo em segredo para me ver. Lembro-me de ir ao colo da minha mãe pelo corredor fora para a ir ver e dizer constantemente “eu estou a sonhar, não é verdade...”. Mas era! E foi uma das maiores alegrias da minha vida. Depois do internamento passei a ser regularmente acompanhada: duas vezes por semana, depois uma vez, depois de duas em duas semanas, uma vez por mês, de 3 em 3 meses, de 6 em 6 e, finalmente já perto dos 12 anos, uma vez por ano. Como não morava em perto do Hospital fazia as injeções de cortisona em casa de uma enfermeira amiga, que sempre me acompanhou com muito carinho. Agora com 22 anos, só continuo a ir às consultas por opção minha. Olho para trás e vejo com olhos de compreensão por tudo aquilo que passei; sei que podia ser eu ou qualquer outra criança a ter este problema, como tantas outras que conheci e com quem convivi nos tempos de tratamento. E de tantas outras que estão agora internadas e outras que infelizmente já cá não estão... A única coisa que me deixa triste é não poder ser dadora de sangue e de medula, algo que faria com orgulho, pois só quem passa por situações como a que eu passei é que vê como realmente é importante dar sangue. Agradeço a todas as pessoas que o fazem, pois foi graças a algumas delas que eu continuo aqui. Termino deixando um grande beijinho para todas as crianças (ou adultos) que passem por situações semelhantes à minha e um grande abraço de força e coragem pois graças à da minha família que nunca me deixou ir abaixo eu nunca perdi a força. E lembrem-se que dar sangue é dar vida.
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