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Raquel Peixoto

21 anos Outro, 2017, Familiar
Sempre fui uma pessoa feliz, apesar de todas a crises existenciais naturais a um adolescente que é tendencialmente ( e por razão nenhuma) sofrido - mas, se houve coisa que sempre dizia era “enquanto tiver os meus pais sei que sou feliz, ainda bem que temos muitos anos pela frente”.
Até que a vida me demonstrou a sua maior característica, imprevisibilidade, da maneira mais dura que poderia imaginar, em 2018. Tudo começou em 2017, uma ida ao hospital que não deixou nada claro… resumida num “não determinamos o que é… tome umas coisinhas para as dores a ver se passa”, escusado será dizer - não passou.

Um diagnóstico ao estômago, que mais tarde se revelou também nos pulmões, e uns dias antes do meu maior anjo ter chegado ao reino dos céus, aos ossos.

Por momentos, nos dois meses após o diagnóstico, tudo pareceu bem encaminhado, empunhava-me de uma esperança de que de facto tudo iria correr bem, parecia melhorar. Porém, enganava-me, cada vez menos força nas pernas, cada vez mais tempo na cama, até que já não se queria levantar mais. As dores que ele sentia, a medicação que não resultava, e ver a vida e a luz nos olhos a esvanecer lentamente isso era o que mais me custava.

No fundo, eu sabia a gravidade da situação e sabia que não havia nada a fazer a não ser dar lhe a esperança de que ia ficar tudo bem, todos unidos a lutar por ele, e acima de tudo a dar lhe força para lutar porque sim, deu lhe vontade de desistir. As dores... o cansaço... mas o que pode uma família fazer ao ver Alguém que ama passar por isto, mesmo sabendo que 99% estamos perante um beco sem saída? Força. Amor, muito amor. Carinho. Companhia. Esperança.

No final, o diagnóstico não era o melhor. Mas mesmo assim continuei a dizer “vai ficar tudo bem” e de toda a vez que lembro o sorriso (com o tempo cada vez mais esvanecido) que ele dava sempre que lho dizia… eu sei, foi a mentira mais bonita que já inventei. E ele lutou até ao fim.

Não se torna mais fácil. Fica sempre um vazio e uma sensação de “poderia ter feito mais”,” poderia ter evitado”. Sempre que via casos na televisão me perguntava “deve ser horrível”, mal sabia eu que o adjetivo não descreve metade. Nada do que disse descreve metade.

Com este testemunho quero deixar palavras de apoio para os doentes, familiares, que não é um processo fácil de todo. Mas a esperança, fé, como quisermos chamar, temos que a manter viva mesmo que seja contra a nossa vontade, por muito irracional que seja. No meu caso a fé e a esperança deixaram a minha família um pouco mais sã, um pouco mais forte, incluindo a minha estrela.
 
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