Testemunhos QUEBRAR O SILÊNCIO
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Sara Sequeira
27 anos Tiróide, 2013, Doente O meu problema da tiróide, como a maioria dos casos, apareceu sem avisar. Sem sintomas, um dia acordei e reparei numa bola no pescoço. Tinha 23 anos. Não dei grande importância mas naturalmente partilhei essa informação com a minha mãe que também desvalorizou, dizendo que era por estar muito magra. Nessa altura estava a ser seguida no Hospital por uma psiquiatra por causa de um distúrbio alimentar. Estava com 43 kg para 160 cm de altura. Foi nessa consulta que se chamou uma especialista da tiróide, que detectou o nódulo e mandou-me fazer uma ecografia. Fiz a ecografia e com os tenros 23 anos não sabia o que esperar ou o que estava a acontecer, não só porque o mantiveram em "segredo" mas também porque nunca fui de fazer grandes alaridos por algo que ainda não se sabe o que é. Durante esta ecografia aconteceu logo algo que me deixou desconfiada porque a jovem que me estava a fazer o exame saiu repentinamente e trouxe consigo outros dois indivíduos. No final do exame disse-me "Olhe vamos ter que picar porque só com a ecografia não conseguimos ver bem". (...) Mas mesmo nessa altura ainda não me tinha apercebido que me iam fazer uma biópsia.
Eu sou daquele tipo de pessoas que prefiro que me digam como são as coisas do que me escondam. Isto porque consigo preparar-me para o que quer que seja de forma mais eficaz. (...)
Estávamos em Julho e em Agosto chegaram os resultados. Carcinoma Papilar na Tiróide. Foi-me contado pela minha psiquiatra no inicio de Setembro. Nesse momento chorei por 5 segundos, compus-me e disse "É você que vai dizer à minha mãe, não sou eu". Saiu-me...Não estava preocupada com o problema que me tinham acabado de dizer que tinha. Não estava preocupada com a doença, com o procedimento que iria dali pra frente decorrer. Estava preocupada com a minha mãe, com a saúde dela e que mais uma vez ia ter que passar por uma destas, desta vez por minha causa. Isso sim foi a facada no meu coração.
Depois da noticia foi tudo muito rápido, o cancro era um pouco agressivo e portanto dia 24 de Setembro do mesmo ano dei entrada no Hospital para fazer a cirurgia onde me ira ser retirada a tiróide na totalidade. Foi me explicado que seria um procedimento simples, entrava num dia era operada no outro e saia. Comigo não foi bem assim. Estive internada 12 dias por causa de algumas complicações que surgiram no pós-operatório. (...)
Quando tudo parecia estar bem num "fatidigo" domingo que anteciparia a minha saída daquele hospital, o lado esquerdo do meu pescoço começou a inchar e as dores começaram a tornar-se insuportáveis. A médica que me viu enviou-me imediatamente para fazer uma ecografia, mas as dores eram tantas que eu nem me conseguia deitar na maca para me fazerem o exame. Então a decisão da médica foi pôr-me em iminência de ir para o bloco por achar que o que se estava a passar poderia eventualmente provocar insuficiência respiratória. (...) Ao que parece, uma das fitas introduzidas dentro do pescoço para cicatrização não foi aceite pelo meu organismo, que provocou um pequena infecção que, juntamente com uma bactéria hospitalar que apanhei enquanto o meu pescoço cicatrizava durante o internamento, provocou um abcesso gigante que provocava dores e imobilização e má postura. Não foi fácil. Durante a semana seguinte ficaram a analisar a situação, tiravam-me sangue todos os dias, davam-me antibióticos, analgésicos...Mas apesar disto levantava-me todos os dias, tentava melhorar a minha postura apesar de estar presa pelo abcesso, e mantive-me sempre positiva.
Uma das coisas que pedi aos meus amigos foi para não me irem visitar porque às vezes é mais difícil para alguém ver-nos naquela situação do que nós que estamos nela, e se já ver a minha mãe e familiares tão abatidos era difícil, o que seria ver os restantes amigos. Sei que seria sempre com a melhor das intenções e para me darem boas energias, mas preferi que não fossem. (...)
Numa madrugada levantei-me e senti-me como já não me sentia há imenso tempo! Senti-me leve, e pensei "Uau, estou melhor!". A infecção que estava até então dentro do meu pescoço começou a sair por um "buraco que o meu organismo naturalmente abriu" por um dos pontos da minha cicatriz, e por isso é que me sentia tão bem! Depois de um grande penso aplicado no meu pescoço fui descansar e tive a primeira melhor noite desde que tinha chegado àquele hospital. (...)
Após a colocação de um dreno silicone, regressei a casa com consulta para iniciar o pré-tratamento para a terapêutica com iodo radioactivo. Este é o procedimento que se faz depois de uma cirurgia destas, pelo menos para o meu tipo de cancro. Somos colocados em hipotiroidismo, o que significa que não temos tiróide ou qualquer tipo de produção de hormonas a funcionar, deixando-nos cansados, tontos e fatigado. Fiz a terapêutica durante 2 dias. (...)
Sempre vivi esta situação de forma muito positiva, nunca achei que ía morrer, que me ia acontecer algo de mau como aconteceu e, apesar de tudo o que passei, mantive-me sempre o mais positiva possível.
Depois de sair do tratamento começa então o seguimento que é feito anualmente. (...) Durante o primeiro ano não senti nada de especial ou diferente em mim, mas com o tempo comecei a sentir uma pressão no pescoço, como se o coração quisesse saltar pela boca, suspiros infinitos e aceleração inexplicável. (...) Após várias opiniões, disseram-me que sofria de ansiedade e os sintomas que tinha eram compatíveis com ataques de pânico. Comecei a ser medicada e estou muito melhor, digo normal.
(...)
Depois deste testamento só queria dizer que a vitória de um cancro está na forma como o vivemos. E eu decidi viver a acreditar, apesar dos contratempos mantive-me firme porque sempre acreditei que era uma fase pela qual tinha que passar e que mais cedo ou mais tarde iria passar. Trouxe-me paciência, aprendi a valorizar mais a vida, e a perceber que o nosso corpo tem limites e temos que saber respeitá-los. Hoje, com 27 anos, vivo bem, dentro das minhas pequenas limitações e sou feliz. Um dia de cada vez, um ano de cada vez.
Eu sou daquele tipo de pessoas que prefiro que me digam como são as coisas do que me escondam. Isto porque consigo preparar-me para o que quer que seja de forma mais eficaz. (...)
Estávamos em Julho e em Agosto chegaram os resultados. Carcinoma Papilar na Tiróide. Foi-me contado pela minha psiquiatra no inicio de Setembro. Nesse momento chorei por 5 segundos, compus-me e disse "É você que vai dizer à minha mãe, não sou eu". Saiu-me...Não estava preocupada com o problema que me tinham acabado de dizer que tinha. Não estava preocupada com a doença, com o procedimento que iria dali pra frente decorrer. Estava preocupada com a minha mãe, com a saúde dela e que mais uma vez ia ter que passar por uma destas, desta vez por minha causa. Isso sim foi a facada no meu coração.
Depois da noticia foi tudo muito rápido, o cancro era um pouco agressivo e portanto dia 24 de Setembro do mesmo ano dei entrada no Hospital para fazer a cirurgia onde me ira ser retirada a tiróide na totalidade. Foi me explicado que seria um procedimento simples, entrava num dia era operada no outro e saia. Comigo não foi bem assim. Estive internada 12 dias por causa de algumas complicações que surgiram no pós-operatório. (...)
Quando tudo parecia estar bem num "fatidigo" domingo que anteciparia a minha saída daquele hospital, o lado esquerdo do meu pescoço começou a inchar e as dores começaram a tornar-se insuportáveis. A médica que me viu enviou-me imediatamente para fazer uma ecografia, mas as dores eram tantas que eu nem me conseguia deitar na maca para me fazerem o exame. Então a decisão da médica foi pôr-me em iminência de ir para o bloco por achar que o que se estava a passar poderia eventualmente provocar insuficiência respiratória. (...) Ao que parece, uma das fitas introduzidas dentro do pescoço para cicatrização não foi aceite pelo meu organismo, que provocou um pequena infecção que, juntamente com uma bactéria hospitalar que apanhei enquanto o meu pescoço cicatrizava durante o internamento, provocou um abcesso gigante que provocava dores e imobilização e má postura. Não foi fácil. Durante a semana seguinte ficaram a analisar a situação, tiravam-me sangue todos os dias, davam-me antibióticos, analgésicos...Mas apesar disto levantava-me todos os dias, tentava melhorar a minha postura apesar de estar presa pelo abcesso, e mantive-me sempre positiva.
Uma das coisas que pedi aos meus amigos foi para não me irem visitar porque às vezes é mais difícil para alguém ver-nos naquela situação do que nós que estamos nela, e se já ver a minha mãe e familiares tão abatidos era difícil, o que seria ver os restantes amigos. Sei que seria sempre com a melhor das intenções e para me darem boas energias, mas preferi que não fossem. (...)
Numa madrugada levantei-me e senti-me como já não me sentia há imenso tempo! Senti-me leve, e pensei "Uau, estou melhor!". A infecção que estava até então dentro do meu pescoço começou a sair por um "buraco que o meu organismo naturalmente abriu" por um dos pontos da minha cicatriz, e por isso é que me sentia tão bem! Depois de um grande penso aplicado no meu pescoço fui descansar e tive a primeira melhor noite desde que tinha chegado àquele hospital. (...)
Após a colocação de um dreno silicone, regressei a casa com consulta para iniciar o pré-tratamento para a terapêutica com iodo radioactivo. Este é o procedimento que se faz depois de uma cirurgia destas, pelo menos para o meu tipo de cancro. Somos colocados em hipotiroidismo, o que significa que não temos tiróide ou qualquer tipo de produção de hormonas a funcionar, deixando-nos cansados, tontos e fatigado. Fiz a terapêutica durante 2 dias. (...)
Sempre vivi esta situação de forma muito positiva, nunca achei que ía morrer, que me ia acontecer algo de mau como aconteceu e, apesar de tudo o que passei, mantive-me sempre o mais positiva possível.
Depois de sair do tratamento começa então o seguimento que é feito anualmente. (...) Durante o primeiro ano não senti nada de especial ou diferente em mim, mas com o tempo comecei a sentir uma pressão no pescoço, como se o coração quisesse saltar pela boca, suspiros infinitos e aceleração inexplicável. (...) Após várias opiniões, disseram-me que sofria de ansiedade e os sintomas que tinha eram compatíveis com ataques de pânico. Comecei a ser medicada e estou muito melhor, digo normal.
(...)
Depois deste testamento só queria dizer que a vitória de um cancro está na forma como o vivemos. E eu decidi viver a acreditar, apesar dos contratempos mantive-me firme porque sempre acreditei que era uma fase pela qual tinha que passar e que mais cedo ou mais tarde iria passar. Trouxe-me paciência, aprendi a valorizar mais a vida, e a perceber que o nosso corpo tem limites e temos que saber respeitá-los. Hoje, com 27 anos, vivo bem, dentro das minhas pequenas limitações e sou feliz. Um dia de cada vez, um ano de cada vez.
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