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Susana Lino

42 anos Linfoma Não Hodgkin, 2004, Doente
O cancro pode derrubar sonhos e impossibilitar projetos. Mas também pode ajudar a crescer e a ver a vida de uma perspectiva totalmente diferente.Tudo mudou no momento em que o médico me disse que eu tinha “um problema que era assunto do IPO”.Tinha eu 33 anos. Havia sido mãe pela primeira vez acerca de 1 ano, de um menino fantástico, o Gonçalo, que ao longo de todo este tempo tem sido a minha principal fonte de energia positiva na luta contra a doença e contra tudo o que dela advém.No verão de 2004, estava eu felicíssima com o meu bebé, apesar de todo o desalento da situação que há primeira vista parecia muito complicada, pois o pai do Gonçalo nunca o quis conhecer, quando comecei a ter os primeiros sintomas de que algo não estava nada bem.Tinha emagrecido bastante, mas que bom! Afinal tinha conquistado uns quilitos durante a gravidez… sentia muito cansaço, mas seria normal atendendo a toda a situação envolvente… o pior foi quando comecei a ficar com graves dificuldades respiratórias e com uma tumefacção no tronco, isso já não podia ser normal…Após exames e consultas médicas, tive o tal veredito… de que era um assunto de IPO, notícia dada por um médico (que já me conhecia há tantos anos) assustado com o que via, e daqui até entrar pela primeira vez no IPO foi um pulinho de pardal.Foi-me diagnosticado um Linfoma não Hodgkin (LNH) no mediastino, já em estado avançado.O que é um linfoma? Hodgkin? Quem é esse? Vou morrer? Como dou a notícia aos meus pais? E o meu filho que nem pai “tem”? E agora? Que vai acontecer? Estou com cancro! Não pode ser!Não dá para esquecer. Desde logo, porque a doença impõe várias limitações, algumas das quais me acompanharão sempre, mas às quais já eu me adaptei. Principalmente à insuficiência respiratória, devido a lesão do pulmão direito.Fiz vários ciclos de quimioterapia em hospital de dia, fiz 25 sessões de radioterapia, em alguns dos momentos passei muito mal e cheguei a ver o descrédito escondido no olhar das pessoas fantásticas que sempre me acompanharam no IPO. Desde pessoal de enfermagem, ao auxiliar, até aos médicos, destacando sem querer desmerecer qualquer uma destas pessoas, a minha médica em quem encontrei uma verdadeira amiga e confidente.Após pouco tempo do término da Radioterapia, tive uma recidiva exactamente no mesmo sítio. Voltei a perder o chão. Aqui sim, foi mais difícil aceitar! Não estava mesmo preparada! Foi mesmo muito difícil. Mas segui em frente para mais uns ciclos de quimioterapia bastante diferentes e agressivos, desta vez feitos em internamentos de 6 dias, em que fazia quimioterapia durante 5 dias consecutivos, 24h por dia. Passei muito mal mesmo. Mas venci mais esta fase e passei à seguinte: o auto-transplantes da medula óssea. Outra etapa terrível para mim, talvez a pior de todas. “Paniquei” completamente no isolamento. Queria abandonar o hospital. Tive que ter acompanhamento psiquiátrico. Lidei mesmo mal com o isolamento. Sentia saudades do meu Filho. Terríveis e insuportáveis. Consegui preocupar toda a gente que me acompanhava de longe ou de perto.Mas, agora, depois de 6 anos do auto-transplante, estou bem. Estou feliz. Estou diferente.Continuo a visitar muitas vezes os meus amigos do IPO, mas basicamente em rotina.Ao longo de toda a doença o que mais me “doía” era a ausência do meu filho nos internamentos, que foram mesmo muitos, era não poder pegar nele ao colo (nem forças tinha), era não poder abraça-lo à noite antes de dormir…Quantas vezes as minhas amigas enfermeiras me encontraram de madrugada sentada no meio da cama, agarrada à foto dele (que sempre levava comigo) a chorar. O tempo que “perdi” dos primeiros anos da infância do Gonçalo, penso que foi o que mais me marcou no meio de tanta coisa.Durante todos estes processos, que pareciam infindáveis, contei sempre com os meus queridos pais, super pais e super avós para mim e para o Gonçalo. Amparando-me na doença. Sofrendo comigo. Criando o meu filho no meu lugar.Hoje sou feliz com o meu Gonçalo, na minha “casa de bonecas” como lhe chamo porque é pequenina. O meu filho tem 9 anos e é um menino feliz ao meu lado. Continuo a trabalhar no que sempre fiz e gostei. Tenho a minha vida nova! Renasci!!!!!É importante que as pessoas percebam a importância das conversas, do sol, do canto dos passarinhos, das flores que crescem na primavera ou das folhas amarelas que o outono traz, do choro dos filhos, do cansaço de um dia de trabalho, da nossa cama quentinha, coisas ridículas aos olhos de quem nunca viveu o cancro. É neste sentido que eu aqui deixo o meu testemunho, não só porque conta a minha história de uma forma que nunca ninguém ouviu da minha boca, mas também porque pode ser a história de muitas outras pessoas e porque pode fazer toda a diferença ao ser lida por alguém que procure alento.
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