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coM a enferMeIra Marta ISabel eSteVeS duarte                      93




            cações que impliquem um internamento mais longo. Cabe à enfermagem, em
            primeira linha, informar, explicar e acalmar o doente e a família.
                  No momento da alta, o doente recebe um kit (oferecido pela Núcleo Regi-
            onal do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro) com alguns objetos que o po-
            dem ajudar na higiene da cânula. O modo de o utilizar é explicado nessa altura.
                  A alta pode ser um novo choque para o doente, que se vê subitamente
            privado da atenção, do apoio e do carinho que recebeu anteriormente. Ele pode
            sentir-se desamparado na rua, por causa da sua dificuldade de comunicação. Por
            isso, a comunicação não-verbal é estimulada ao longo do internamento. Mas,
            mais uma vez, as senhoras enfermeiras procuram desmistificar estes receios, ci-
            tando o exemplo de tantos outros doentes que viram passar pelo serviço e que
            vivem uma vida feliz, praticamente normal. A reabilitação da voz é possível e
            apenas exige tempo e o envolvimento do próprio doente. Para ajudar na adap-
            tação à nova forma de vida, e como último conselho, as enfermeiras relembram
            e insistem na necessidade de o doente ir às consultas médicas prescritas. Estas
            contribuem decisivamente para a qualidade de vida dos doentes, sendo-lhes da-
            dos conselhos e, eventualmente, material.
                  A laringectomia total tem de facto repercussões físicas e funcionais óbvi-
            as, as quais podem provocar alterações nos planos familiar, profissional, social
            e mesmo psicológico. O papel diferenciador, no IPO de Lisboa, está numa equi-
            pa experiente e que aconselha durante a reabilitação da pessoa e da família, a
            prevenção de complicações e o estabelecimento de um projeto de vida realis-
            ta. Muitas vezes, o IPO de Lisboa centra-se não apenas nos aspetos diretamente
            relacionados com a laringectomia, mas também nos aspetos relacionados com
            hábitos de vida saudáveis.
                  É fundamental o trabalho de todos: enfermeiro, médico, assistente social,
            dentista, psicólogo ou psiquiatra, secretariado, assistentes operacionais, terapeu-
            tas da fala, fisioterapeutas e voluntários laringectomizados, com quem os doentes
            se identificam e que os ajudam a acalmar angústias e a projetar um futuro pos-
            sível, logo a partir do pós-operatório. Todo este trabalho de equipa é concebido
            tendo em vista a readaptação da pessoa a uma vida com qualidade.
                  Pelo que aqui resumimos, fica claro que o trabalho da enfermeira Marta
            transcende, em muito, o mero campo dos cuidados específicos: ela dá apoio e
            carinho aos doentes, numa fase em que estes se sentem particularmente frágeis.
            Perante as situações dramáticas a que por vezes assiste, também necessita de
            muito esforço para manter a força.
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