Impacto da COVID-19 em doentes oncológicos e seus familiares/cuidadores
Enquadramento
Viver com um diagnóstico de cancro acarreta elevados níveis de ansiedade e de incerteza.
Pelo seu caráter inesperado, grau de ameaça e impacto nas relações sociais e nos hábitos de vida, a pandemia COVID-19 veio induzir medo, insegurança e ansiedade na população, em geral, e em determinados grupos, em particular, nomeadamente os doentes oncológicos e os seus cuidadores.
Além das ameaças impostas pelo diagnóstico de cancro, doentes e cuidadores são, agora, confrontados com desafios adicionais, que passam pela necessidade de proteção em relação ao vírus, lidar com a incerteza quanto à continuidade do tratamento médico, e adaptar-se às alterações nas rotinas diárias, incluindo a privação da autonomia e dos contactos sociais.
Neste âmbito, a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), entidade de referência nacional no apoio ao doente oncológico e família, realizou um estudo nacional com o objetivo de avaliar a perceção do impacto da pandemia COVID-19 em vários domínios da vida de doentes oncológicos/sobreviventes de cancro e familiares/cuidadores.
Pelo seu caráter inesperado, grau de ameaça e impacto nas relações sociais e nos hábitos de vida, a pandemia COVID-19 veio induzir medo, insegurança e ansiedade na população, em geral, e em determinados grupos, em particular, nomeadamente os doentes oncológicos e os seus cuidadores.
Além das ameaças impostas pelo diagnóstico de cancro, doentes e cuidadores são, agora, confrontados com desafios adicionais, que passam pela necessidade de proteção em relação ao vírus, lidar com a incerteza quanto à continuidade do tratamento médico, e adaptar-se às alterações nas rotinas diárias, incluindo a privação da autonomia e dos contactos sociais.
Neste âmbito, a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), entidade de referência nacional no apoio ao doente oncológico e família, realizou um estudo nacional com o objetivo de avaliar a perceção do impacto da pandemia COVID-19 em vários domínios da vida de doentes oncológicos/sobreviventes de cancro e familiares/cuidadores.
Metodologia
Estudo transversal, descritivo e inferencial, suportado por uma metodologia quantitativa. A informação foi recolhida através de um questionário elaborado pela equipa de psicólogos da Liga Portuguesa Contra o Cancro.
As respostas a este questionário foram obtidas através do website institucional, www.ligacontracancro.pt , tendo sido cumpridos todos os pressupostos de proteção de dados. O questionário esteve disponível online entre os dias 2 de julho e 18 de novembro 2020.
Caracterização da amostra
A amostra foi constituída por 948 doentes oncológicos/sobreviventes de cancro e por 378 familiares/cuidadores, com mais de 18 anos e residentes em Portugal. Amostra por voluntariado, possivelmente não representativa da população estudada.
Alguns resultados
Perceção de risco
- A maioria dos doentes oncológicos - quer estejam em fase ativa quer sejam sobreviventes - considera-se um doente de risco para a COVID-19 (maior probabilidade de contágio e maior vulnerabilidade a complicações). O mesmo acontece com os cuidadores.
- Muitos doentes (na ordem de 1 ou 2 em cada 10) revelam desconhecimento sobre o seu nível de risco.
Impacto socioeconómico
- Um número considerável de doentes e cuidadores (entre os 20% e os 50%) considera que a pandemia afetou, de algum modo, a sua vida a nível socioeconómico;
- 1 em cada 10 doentes e cuidadores sentiu de bastante a muitíssima dificuldade em pagar as despesas familiares.
Acesso aos cuidados de saúde
- A pandemia COVID-19 parece ter tido algum impacto no acesso aos cuidados de saúde, na medida em que 1 a 2 em cada 10 doentes tiveram algum tratamento suspenso durante este período;
- 2 em cada 10 doentes e 1 em cada 10 cuidadores ponderaram suspender, por iniciativa própria, os atos clínicos por receio de se dirigirem aos serviços hospitalares;
- 6 em cada 10 doentes e 8 em cada 10 cuidadores sentiram medo do contágio por outros doentes ou profissionais de saúde, o que poderá condicionar a sua acessibilidade a cuidados de saúde adequados
Impacto psicológico
- Os cuidados a ter com as medidas de prevenção parece interferir na vida normal de 3 em cada 10 doentes e/ou cuidadores;
- 7 em cada 10 doentes e 8 em cada 10 cuidadores sentem-se de bastante a muitíssimo preocupados com a pandemia;
- Entre 15% e 22% de cuidadores/doentes necessitaram de recorrer a medicação ou a apoio psiquiátrico/ psicológico durante a pandemia;
- A pandemia causou ainda sentimentos de tristeza, ansiedade, preocupação e isolamento numa percentagem considerável de doentes e cuidadores, além de um acréscimo das responsabilidades laborais (principalmente em sobreviventes de cancro), das responsabilidades familiares (essencialmente em cuidadores), e maior preocupação com os tratamentos e evolução da doença, mais presente em doentes e cuidadores de doentes em fase ativa.
Distress emocional, ansiedade e depressão
- 1 em cada 2 doentes apresentou distress emocional ou sofrimento emocional significativo, superior aos índices encontrados em estudos anteriores (1/3);
- 3 em cada 10 doentes e 4 em cada 10 cuidadores revelaram ansiedade significativa;
- 2 em cada 10 doentes e cuidadores revelaram depressão significativa;
- Os níveis de distress emocional, ansiedade e depressão, são idênticos entre doentes em fase ativa e sobreviventes de cancro;
- Os doentes que viram os seus tratamentos suspensos por indicação médica durante a pandemia revelam níveis superiores de distress emocional, ansiedade e depressão;
- Cuidadores de doentes (em fase ativa) têm índices superiores de distress emocional, ansiedade e depressão comparativamente aos doentes (em fase ativa);
- Os níveis de qualidade de vida são idênticos entre doentes em fase ativa e sobreviventes de cancro;
- Os doentes que viram os seus tratamentos suspensos por indicação médica durante a pandemia revelam pior qualidade de vida;
- Os cuidadores de doentes em fase ativa têm uma pior qualidade de vida do que os cuidadores de sobreviventes de cancro e do que os doentes em fase ativa.