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                     Mais adiante, em Olite, já na região de Navarra, o Pedro, que com a au-
               tocaravana seguia sempre adiante para organizar a pernoita, teve o desplante
               de bater à porta de um convento, para pedir abrigo (para um laringectomizado,
               trata-se de uma boa iniciativa). Em boa hora o fez: após a surpresa inicial, as
               freiras prontificaram-se a albergá-los, dando-lhes jantar e tratando-lhes da rou-
               pa; também foi celebrada uma missa cantada.
                     O grupo continuou a percorrer quilómetros (já tinha percorrido aproxima-
               damente 1000) e a trepar os Pirenéus – novamente debaixo de chuva! A etapa
               que terminou em Lourdes foi a mais curta do périplo. Mas, descendo da mon-
               tanha, encharcados e com 6 C de temperatura, foi de longe a mais difícil de to-
                                       o
               das. De bicicleta, é mais difícil descer do que subir! Felizmente, o acolhimento
               no albergue da Cáritas em Lourdes permitiu recuperar do cansaço dessa «cruel»
               etapa. Mas a cerimónia de entrega das lembranças, no Município de Pau (outra
               cidade geminada com Setúbal) teve de ser adiada para o dia seguinte.
                     Através de França, as muitas pistas cicláveis (o Manuel tinha estudado
               bem o percurso) e os numerosos parques de campismo facilitaram o avanço. O
               Pedro continuava a preparar atempadamente as refeições, que não suscitavam
               reclamações (antes pelo contrário). Faltou dizer que, durante a marcha, o con-
               tacto dele com os ciclistas não foi muito fácil: estes iam pedalando, nem sem-
               pre pela mesma estrada, e imagine-se só a (ilegal acrobacia) que envolve um
               laringectomizado falar ao telefone e conduzir a autocaravana…
                     O grupo chegou a Itália com dois dias de avanço em relação ao progra-
               ma. Foi então que um dos pneus da autocaravana, em plena montanha, numa
               estrada isolada, decidiu furar. um furo é um problema sem importância quan-
               do se tem um «macaco» para permitir a «manobra». A autocaravana não o tinha!
               Os ciclistas juntaram-se ao Pedro em várias tentativas (infrutíferas) de mudar a
               roda. Finalmente, apareceram uns turistas franceses com um veículo igual mas
               com um «macaco», o que lhes resolveu o problema. Foi a tal «estrelinha» que
               sempre os acompanhou, como referiu o Manuel.
                     Mas os problemas de pneus não tinham acabado. Com a autocaravana a
               seguir por uma via rápida e os ciclistas a pedalar por uma estrada ciclável, um
               pneu resolveu explodir. Com muita habilidade e com muita sorte, o Pedro con-
               seguiu não sair da estrada. Sendo um domingo e estando o grupo a dois dias
               do Vaticano, a situação era realmente complicada. Lembraram-se de pedir ajuda
               aos bombeiros da terra onde estavam. Estes, e os de outra corporação vizinha,
               foram absolutamente inexcedíveis no apoio que deram: levaram os ciclistas até
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