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42.ª peregrinação pedestre entre Setúbal e Fátima. Que belo exemplo de fé e de
ânimo nos dão ambos! Já começamos a ver que há muitas formas de enfrentar
a adversidade. Cabe dizer que, tendo navegado durante muito tempo, o Manuel
não tinha muitas oportunidades de praticar desporto além da pouca ginástica de
manutenção que as limitações do espaço permitiam. Depois de uma interven-
ção cirúrgica «pesada», a sua forma física não era das melhores, como facilmen-
te se compreende… Dessa ida a Fátima ficou-lhe o gosto por peregrinar; desde
então, todos os anos, quer chova quer faça sol, celebra o seu aniversário com
uma caminhada até Fátima. O gosto pelas caminhadas enraizou-se nele, e todos
os pretextos passaram a ser bons para praticar esse exercício; umas vezes cami-
nhando, outras correndo (até mesmo em competições).
A rota da Europa para a América do Norte levava-o a passar muitas vezes
ao largo da ilha do Pico, cujo perfil, visto do mar, é de uma impressionante be-
leza e elegância. Essa vista marcava tanto o Manuel que o levava a pensar consi-
go mesmo, cada vez que por lá passava: «um dia, tens de lá ir acima». E é claro
que foi, subiu 2351 metros acima do nível do mar, e nessa escalada aprendeu
uma coisa acerca da montanha: é muito mais fácil (e menos perigoso) subir do
que descer. Levou três ou quatro horas a subir e seis a descer. O tempo de su-
bida pode ser considerado como excecionalmente bom, mas, para baixo, nem
todos os santos ajudam!
Para poder alargar o seu «raio de ação», a compra de uma bicicleta era
a opção que se impunha. As caminhadas e as corridas constituíam uma boa
preparação física e a laringectomia era «ultrapassada» pela força de vontade.
Com pouca experiência velocipédica, e sem nunca ter tido uma bicicleta, ei-lo
a percorrer os arredores da sua Setúbal. Foi à força de pedalar regularmente
pela zona que acabou por encontrar e juntar-se a um grupo de amigos, que fi-
caram unidos por muitos interesses e sempre com vontade de ir mais longe (já
veremos até onde foram). Este grupo era formado por antigos e atuais bom-
beiros sapadores de Setúbal; já tinham todos deixado os 50 anos para trás, mas
também tinham (e têm) sempre projetos em carteira. Assim, em 2012 pedala-
ram o caminho português de Santiago, a partir do Porto. Tendo-lhe tomado o
gosto, em 2013 fizeram o caminho francês para Lurdes, a partir de Santiago de
Compostela. O ano de 2014 ficou marcado por uma viagem desde o Porto até
Santiago de Compostela, pela costa. Como o Manuel dificilmente fica quieto
durante muito tempo, nesse mesmo ano passou 15 dias a passear pelas altas
montanhas do Peru.