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122 Quero, logo falo
atrás sejam revertidos, para que os sobressaltos sejam ultrapassados, para rela-
tivizar o que está a ser mais difícil e dar-nos o alento necessário para esperar-
mos o dia seguinte.
uma companheira sente que tem de fingir, que não pode fraquejar, tem de
inventar forças, tem de ser um esteio; porque o desafio do que está por vir é exi-
gente, as interrogações são imensas, a dúvida sobre como vai ser depois, «sem falar»,
pesa muito, por muito que fujamos a enfrentar essa nova realidade. uma compa-
nheira tem de acreditar que é possível, tem de conseguir mostrar-se confiante; e a
vida vai provar que é possível vencer cada etapa. Em cada dia, temos a certeza de
que o pior ficou para trás. E «a voz» vai chegar, de mansinho, para, fruto de mui-
ta persistência, se ir afirmando e abrindo as portas para um dia a dia autónomo.
No quinto piso do IPO de Lisboa, vivi os tempos mais duros da minha
vida. Contudo, posso dizer que, de lá, trouxe aprendizagens únicas e um conjun-
to de memórias que, a todo o momento, me comovem e encorajam! Pensando
nas pessoas com quem me cruzei, e em todas as que lá continuarão a buscar a
cura para a tremenda adversidade que lhes barrou o caminho, sinto uma imensa
vontade de partilhar esta vitória, que é possível alcançar.
No meio de um sofrimento atroz, tornam-se preciosas as palavras que nos
chegam de quem tem experiência, os gestos que nos animam, os olhares que nos
dizem para confiarmos. Eu nunca sofrera tanto por ver e sentir o sofrimento de
alguém, e foram esses apoios com que sempre contei (de todas e todos os pro-
fissionais de saúde e voluntárias e voluntários do Movimento de Apoio aos Larin-
gectomizados, da Liga Portuguesa Contra o Cancro) que me fizeram acreditar no
fim do pesadelo. Sim, aquele pesadelo terminou de facto.
O «adeus» ao quinto piso correspondeu ao fim de uma dura etapa nas nossas
vidas. Felizmente, está encerrada. Haverá, de futuro, visitas ao IPO, para consultas
de controlo que passarão a integrar a nossa rotina. Voltaremos, mesmo assim, ao
quinto piso, para colhermos aqueles sorrisos renovados e agradecermos – agra-
decermos sempre! –, garantindo que os guardamos connosco e continuamos a
recordá-los na caminhada que estamos a iniciar. Preparados e confiantes, viven-
do a nossa vida moldada de novo, com voz e com esperança!