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A Má SuRPRESA… E O QuE SE LHE SEGuIu
Henrique Dominguez
O diagnóstico caiu-me em cima como uma paulada na nuca. Fiquei ator-
doado.
um pequeno incómodo na garganta levou-me a consultar um clínico ge-
ral e dois otorrinolaringologistas. Todos me tranquilizaram e mandaram embora
com umas receitas do género «se não fizer bem, mal também não faz».
Finalmente, o terceiro otorrino que consultei fez-me um exame rigoroso
e recomendou-me uma TAC, a que se seguiu uma biopsia. A partir do resultado
desta, o diagnóstico estava feito e o programa traçado.
Tudo isto se desenvolveu num espaço de tempo muito curto, dando-me
pouco tempo para pensar ou para fazer perguntas sobre como seria o pós-ope-
ratório e sobre as consequências da laringectomia na vida corrente.
O especialista informou-me sobre todos os aspetos técnicos da situação e
da intervenção cirúrgica, mas nada disse acerca das consequências psicológicas.
Fui para a cirurgia sem preocupações e sem ideia de como seria o futuro. Se ti-
vesse tido uma informação adequada sobre estes aspetos, teria evitado muitos
momentos difíceis. Creio que é muito importante receber apoio desde o diag-
nóstico até à adaptação às novas condições de vida.
A cirurgia correu muito bem: o tumor foi inteiramente removido e a pas-
sagem pela sala de recobro quase me deixou uma boa recordação. Lembro-me
de um episódio caricato: ouvindo uma das jovens e eficazes enfermeiras falando
sobre o teto da sala que ia pintar nesse fim de semana, e percebendo que ela não