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AOS 23 ANOS…
Tomás Mello Breyner
Aos 23 anos, recebi a notícia de que tinha um cancro. A palavra «cancro»
já era muito conhecida para a minha família, pois o meu pai teve três e mui-
tos tios também lidaram de perto com esta doença; a maioria deles está cá para
contar a história.
Lidar com o cancro não é fácil, pois achamos que só acontece aos outros;
eu sempre achei que era uma doença de pessoas mais velhas e não me imagi-
nava com ela aos 23 anos. Tinha tudo para viver e descobrir e, principalmente,
tinha uma namorada havia três meses.
Ao início tive uma fase de negação e medo – muito medo –, por não sa-
ber o que vinha daí para a frente. Fui operado rapidamente e quando acordei,
passados muitos dias (devido a complicações pós-cirúrgicas), tinha uma traque-
ostomia… Não falava!
Sempre fui muito comunicativo, muito ativo e empreendedor. Para mim
não falar era impossível, mas fui-me habituando aos poucos, comecei a recupe-
rar a voz, tive alta e tirei a cânula rígida.
Após alguns dias sem cânula, asfixiei e acabei por ser operado novamen-
te, para colocar uma cânula. Desde esse dia nunca mais falei, a minha traqueia
fechou e a operação para voltar a ter voz tem alguns riscos, como o de ficar para
sempre com uma sonda nasogástrica.