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               do silêncio”». José Joaquim refere, louvando, que «é também de salientar quanto
               têm sido úteis para mim as reuniões do Movimento de Apoio aos Laringectomi-
               zados, onde podemos contactar com outros companheiros que passaram pelo
               mesmo – alguns já operados há muitos anos – e observar o seu comportamento,
               especialmente no campo da fala. Também algumas dúvidas que tenho tido me
               foram esclarecidas ali, com toda a boa vontade».
                     E chega o dia em que a história clínica se fixa em procedimentos definiti-
               vos e cuidados rotineiros e se fica, de vez, com a Vida pela frente. uma vida bem
               diferente do que algum dia se imaginara. uma vida conquistada ao preço de ouro
               do sofrimento. Como recorda Manuel Bolas, «foram-se-me embora dez quilos do
               corpo e um bocado da alma!». Trata-se de uma vida a re-viver, a re-configurar,
               a re-motivar, quanto mais não seja porque se pode dizer com Avelino Marques:
               «Como já não havia nada a fazer, comecei a pensar: “Apesar de tudo estou vivo!
               Só não falo nem como normalmente, mas os mudos também não falam e fazem
               uma vida normal. Eu ainda posso alimentar-me sozinho e posso escrever. Por
               isso, também posso fazer uma vida quase normal!”
                     Nélia Sirgado diz do pai que, mesmo depois de operado, «sempre sorriu e
               adorava juntar tudo e todos. Mesmo sem comer nada mais do que líquidos e sem
               falar há sete anos, sempre fez ele próprio os petiscos para juntar a família e os
               amigos. Adorava estar rodeado de gente amiga. Nunca se revoltou. Sempre acei-
               tou. E sorriu…». um ano depois de operado, José Joaquim declara: «Bom, já fui
               operado há mais de um ano, julgo estar tão habituado à minha nova vida, a que
               a cirurgia me obrigou, que encaro a vida talvez ainda melhor do que antes. Estes
               problemas endurecem um homem que tem de arranjar forças para os superar».
                     Se me está a ler, saiba que esta história não acaba aqui. Há sempre mais
               uma vida para guardar e reanimar: a sua!
                     Com raiva ou com brandura, pegue-a pelos cornos ou fale-lhe baixinho,
               mas, pela sua saúde, não desista!
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