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                     Por ocasião do primeiro tratamento (habitualmente, a cirurgia), que é mui-
               tas vezes a primeira ligação de confiança com a equipa clínica, alguns doentes
               queixam-se de ansiedade e de depressão. Algumas antigas «bengalas» emocionais
               (por exemplo o álcool e o tabaco), que eram usadas pelo doente para tolerar me-
               lhor o stresse, tornaram-se pouco úteis, pois os consumos têm de ser interrom-
               pidos. Como resultado dessa paragem, pode aumentar o sofrimento psicológico
               e físico, bem como as consequentes queixas de irritabilidade, agitação, insónia
               e confusão mental. Por isso, é necessário o apoio dos médicos e enfermeiros.
               É ainda possível que o doente se afaste da família, dos amigos e da equipa mé-
               dica, manifestando irritação e tristeza; também pode não saber como lidar com
               a dor física e o emagrecimento. A equipa de tratamento (enfermeiros, médicos,
               psicólogo, psiquiatra, assistente social e nutricionista) está atenta a estas reações,
               além de estar presente para orientar o doente no melhor caminho.
                     Após o doente ter alta, são frequentes os sentimentos de alívio e de con-
               fiança face ao futuro. A maioria destas pessoas adapta-se bem em termos psico-
               lógicos e socioprofissionais.
                     Ainda durante os tratamentos podem surgir novas queixas de ansiedade.
               A radioterapia pode agravar fobias face à colocação da máscara de imobiliza-
               ção, podendo desencadear ataques de pânico. A alteração da normal respiração
               (traqueostomia, acumulação de secreções, etc.) pode gerar receio de sufocação
               (medo de adormecer e de estar sozinho). Mais uma vez, é importante perguntar
               quais são as queixas do doente e encaminhá-lo para uma ajuda especializada.
                     A reabilitação pós-tratamento inclui cuidados de preparação para retomar
               a vida normal: terapia da fala, treino de deglutição, controlo da respiração e re-
               laxamento, fisioterapia (fortalecimento dos músculos do pescoço e dos ombros,
               redução da dor) e cuidados alimentares (apoio do nutricionista). É portanto uma
               etapa essencial para uma adaptação eficaz à doença.
                     Ao ficar livre da doença, a alteração da imagem é uma das principais preo-
               cupações do doente e da sua companheira (ou vice-versa). Acredita-se também que
               o grau de perturbação da linguagem, mastigação, deglutição, respiração, audição e
               olfato, bem como a intensidade da dor, possam reduzir a autoestima dos doentes.
               Também o «fantasma» do medo de reincidir no cancro pode ser agravado por sin-
               tomas ligeiros (dor de garganta, perda de apetite, etc.), nomeadamente antes das
               consultas de rotina. Novamente, devemos estar alerta e aconselhar os doentes.
                     Para os doentes fumadores e com hábitos alcoólicos diários, o cancro pode
               ser a motivação para a sua paragem, adotando estilos de vida mais saudáveis. No
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