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               Todavia, não foi nada de insuportável e que não pudesse ser minimizado com
               a administração das pomadas prescritas.
                     Os maiores problemas surgiram no médio prazo. Em primeiro lugar, a
               deterioração dos dentes, que se foram partindo em grande número, parecendo
               secos por dentro. Razões médicas, enunciadas nos protocolos estabelecidos, re-
               comendam a não-extração dos dentes antes de decorridos três anos após a con-
               clusão da radioterapia. Assim, só a partir do começo de 2014 iniciei a extração
               das cerca de dez raízes, dos dentes que se foram partindo. A falta de tantos den-
               tes produzia inevitáveis reflexos no aumento das minhas dificuldades de masti-
               gação. Decidi por isso, após a realização dos exames adequados, e na sequência
               da comunicação entre o dentista e a radiologista, submeter-me às ações cirúrgi-
               cas com vista à colocação de implantes. Tratou-se, como é compreensível, de um
               processo que se prolongou por muitos meses. O mesmo esteve sempre a cargo
               do meu dentista, o Dr. João Lagrange, que deu o seu trabalho por concluído no
               mês de setembro de 2015.
                     Sinto-me naturalmente bastante melhor, não só no plano estético, mas
               principalmente do ponto de vista funcional.
                     uma outra consequência que atribuo à radioterapia (não sendo eu médico,
               pode faltar fundamento científico a algumas das afirmações que faço, mas limito-
               -me a falar do que sinto na pele) diz respeito a uma maior rigidez e a um maior
               encortiçamento dos tecidos do pescoço, bem como ao agravamento da sensação
               de garrote. Por vezes, isto torna o meu dia a dia particularmente desagradável.
               Procuro reduzir essa sensação de mal-estar mediante a alteração de certas posturas
               corporais – designadamente no que se refere à posição da cabeça e à colocação
               dos braços –, bem como através da redução do tempo a trabalhar com o compu-
               tador. Além disso, efetuo com regularidade exercícios físicos de flexão e rotação
               com os braços, ombros e pescoço. Submeto-me também com alguma frequência
               a sessões de drenagem linfática, no âmbito dos tratamentos de fisioterapia que
               me são prescritos pela médica fisiatra que me acompanha no Hospital da Luz.




                     3.2. A terapia da fala


                     Após a cirurgia e durante algum tempo, eu tive acompanhamento psico-
               lógico. Era então muito sensível a algumas reações de estranhos que considero
               menos felizes, ainda que pudessem ser bem-intencionadas.
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