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                  Dou três exemplos:
                  •  Aquilo a que chamo «reação do coitadinho» – Trata­se da manifestação
                     de pena da parte de alguém que tem manifestas dificuldades em co-
                     municar oralmente;
                  •  Também ocorre com muita frequência que uma pessoa com quem fa-
                     lamos não tenha a sensibilidade de se manter silenciosa quando ten-
                     tamos exprimir uma ideia mais importante e, embora sem maldade,
                     sobreponha a sua voz à nossa, o que basta para nos forçar a interrom-
                     per a comunicação;
                  •  É frequente, em certas circunstâncias, aquilo a que chamo «conselhos
                     piedosos», do género: «Ai como está essa garganta! Tome um chazinho
                     com uma colher de mel, que isso passa»: Repito: a intenção pode até
                     ser a melhor, mas é desapropriada e fora de tempo.


                  Não é excessivo repetir esta ideia: a voz recupera-se e afina-se.
                  A fala torna-nos plenamente humanos. Logo, a terapia da fala constitui
            um grande passo para uma vida normal, representando uma etapa fundamen-
            tal no caminho da recuperação, quer do ponto de vista da autoestima, quer no
            plano social.
                  Frequento sessões de terapia da fala com a Dr.ª Maria Filomena Gonçalves
            desde há quase cinco anos. Com a sua ajuda, tenho feito progressos significativos
            quer na utilização da voz traqueoesofágica – com recurso à prótese fonatória que
            me foi implantada no ato cirúrgico –, quer no uso da própria voz esofágica. Com
            esforço e força de vontade, é possível melhorar progressivamente as capacidades
            de reutilização desse tão importante instrumento de comunicação que é a voz.
                  Claro que evito, sempre que possível, ambientes ruidosos ou interlocutores
            que não sabem calar a sua torrente verbal, não chegando a ter consciência das limi-
            tações de quem se vê forçado a um particular esforço para se poder fazer ouvir.




                  3.3. outras limitações


                  Além das limitações já referidas, posso mencionar a perda do olfato e da
            capacidade de soprar ou de cuspir.
                  Como é natural, dou particular relevo à perda do «cheiro. No meu caso,
            consigo, ao sair de casa e se o vento ajudar, cheirar a loção de barbear que usei,
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