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gidas, de plástico, não fenestradas, sem ventilação e presas por fitas de nastro
à volta do pescoço. Na fase inicial do pós-operatório, quando ainda tinha difi-
culdade em desatar os atilhos, e num momento de aflição causada por um ro-
lhão, escrevi o seguinte: «Estou com dificuldades respiratórias. Preciso que me
tirem a cânula, com urgência». E, uma vez retirada a cânula, escrevi por baixo:
«Que alívio!».
Numa outra ocasião, a minha mulher apercebeu-se de que eu estava com
o diâmetro da cânula interior quase inteiramente obstruído por um rolhão muito
grande e denso. Apercebendo-se das minhas grandes dificuldades respiratórias,
chamou aflita a enfermeira de serviço, que me socorreu com as habituais dili-
gência e eficácia. Porém, antes de me desatar os atilhos da cânula, mandou-me
tossir com força. Quando eu o fiz, o rolhão foi expelido, tendo ficado preso no
espelho fronteiro. A sensação de alívio é dificilmente traduzível por palavras.
Por isso, compreende-se que logo a seguir, com mais calma e fazendo
uso da minha melhor caligrafia, tenha escrito uma mensagem que fez sorrir a
enfermeira a quem era dirigida, pouco habituada ao «discurso» algo rebuscado
(ou gongórico) que é próprio da comunicação escrita entre os juristas. Escrevi
então o seguinte: «Seria possível que a Senhora Enfermeira, hoje, mais ao fim da
tarde, à hora que lhe desse jeito, nos ensinasse, mais uma vez a tirar, limpar e
voltar a pôr a cânula?».
uma palavra é devida ao inestimável labor das enfermeiras e ao conjun-
to de princípios fundamentais por que se norteia o seu comportamento, e pelos
quais se rege a sua ação. Enunciaria os seguintes:
• Agir sem demora;
• Prestar atenção aos sinais de aflição e angústia do doente;
• Adotar uma postura educativa e pedagógica.
A título de exemplo, refiro o ensino de técnicas mais fáceis e expeditas
de atar os nastros, que prendem a cânula por forma a facilitar o ato de a retirar.
São coisas simples, mas muito importantes naqueles momentos de dificuldade
e ansiedade.
Aproveito para deixar aqui uma palavra de agradecimento ao meu cirurgi-
ão, uma pessoa com insuperáveis solicitude e compreensão. Agradeço também
ao corpo de enfermagem da CuF Infante Santo, que me atendeu (socorreu) na-
queles tempos tão difíceis, com uma permanente palavra de esperança e uma
atitude de humanidade e eficácia.